Conceito, o que é conceito? No dicionário, conceito é definido como formulação de uma ideia por meio de palavras ou recursos visuais. Na reunião onde fora discutido o conceito do álbum de Min Ye Rin, a decisão final acabou sendo que seguiriam com o conceito “summer retrô magic”, algo que não só parecia ser inovador e que se encaixava em conceitos mais populares, mas que também era perfeito para as músicas compostas pela artista.

Agora, uma pergunta mais importante do que o conceito de conceito: O que é “summer retrô magic”? Com a chegada do verão, todos os artistas procuravam um jeito de inovar em seus álbuns. Para a Rainbow Entertainment e sua solista, incluir elementos retrô pareceu a melhor opção. Graças a essa solução, o conceito foi formado e eles começaram a trabalhar.

Transformar a obra simples da garota em uma música boa o suficiente para os padrões da empresa levou algum tempo. Não fora um trabalho impossível, mas a fez ficar presa no estúdio mais do que ela desejava. O sentimento que enchia o seu peito não era bom, era uma espécie de tristeza, de saudade de algo que ela não podia mencionar para mais ninguém. O seu suspiro atraiu a atenção daqueles que estavam ao seu redor, o produtor encarando-a com um sorriso simpático. — Está pronta para começar? — A voz do homem a levou para o presente e a mulher forçou-se a sorrir, assentindo com a cabeça.

Não podia lamentar ali, tinha trabalho para fazer. A gravação de seus vocais não podia mais ser adiada, especialmente agora que estava tudo perfeito com a melodia. Colocou o seu celular sobre o lugar que antes se sentava, engolindo o bolo em sua garganta. Nervosismo não era a palavra certa para descrever o que sentia. Entrou na cabine de gravação, colocando os fones sobre seus ouvidos e fechando os olhos. Concentrou-se em expulsar o cansaço, a tristeza e tudo que podia a impedir de atingir a perfeição. Quando a batida começou, Yerin esboçou o menor dos sorrisos, orgulhosa de onde haviam chegado.


Em Oh! my mistake, o desejo dela era que o ouvinte sentisse que Yerin estava flertando, provocando-o. Um sorriso brincalhão plantou-se em seu rosto, os sentimentos que antes a atormentavam sumiam aos poucos. Essa era a magia da música para a garota: Tudo de ruim desaparecia assim que ela começava a cantar. No começo, as notas não eram altas, o que tornava o processo mais natural, algo com que ela não tinha muita dificuldade.


Com a menção de ficar corada, levou suas mãos até suas bochechas. Sabia que estava em um lugar cercado por pouquíssimas pessoas e que não era uma performance, mas, mesmo assim, ainda gostava de ilustrar as suas letras. Apartir dali, a batida ficaria mais rápida e, assim, teria que se concentrar mais no modo em que respirava.


Diferentemente da melodia que, — no final do verso —, começava a subir e dar a entender que uma nota alta viria, a parte final era em um tom baixo. Não um sussurro, claro, mas algo que quebrava a expectativa do telespectador. Era uma provocação, uma brincadeira. Aproximou-se um pouco mais do microfone para dizer as palavras, o sorriso maior do que antes.


O refrão era a parte mais divertida. Levando seus dedos até o fone, ela balançava a cabeça suavemente, apreciando a obra de arte que produzia. Do outro lado da sala, os produtores assentiam, parecendo satisfeitos. Duvidava que conseguiriam terminar a canção com apenas uma gravação, entretanto, tinha esperanças.

Pelo resto da música, tentou manter a sua energia alta e o seu sorriso intocável, prestando atenção redobrada na parte do mini rap logo após o refrão, atenta em sua pronúncia. Não queria errar. Era a pior rapper de todas, mas ainda queria conseguir entregar algo bom para os seus luvs.

Ao final, olhou para os produtores, erguendo o seu polegar, como se perguntasse se tinha ido bem. Com a confirmação deles, moveu seu corpo rapidamente, como se fosse uma dança da vitória. Depois, se posicionou novamente, esperando pelas instruções que viriam a seguir.

“예린, 화이팅!~” Disse para si mesma antes de começarem a gravar a música pela segunda vez.

Tinha certeza que seus olhos estavam brilhando. Perfect Love era a versão musical de todos os sentimentos bons que tinha em relação a um certo garoto que não citaremos o nome por motivos de privacidade tanto de Yerin quanto do dito cujo. Sentia vontade de rir, realmente. Era algo tão bom, um sentimento difícil de expressar e, estranhamente, sentia que tinha conseguido. Perfeito era uma palavra forte, claro, porém era a única expressão que descrevia o rapaz por inteiro.

Aquela canção era uma, — das milhares —, carta de amor secreta. Rainbow não podia e, provavelmente, nunca saberia sobre os sentimentos que ela guardava dentro de si. Mas os dois sabiam. E aquilo era suficiente. Com um leve tremor em suas mãos, continuou a cantar, imaginando que ele estava em sua frente.


A voz de Yerin era versátil, perfeita tanto para músicas mais suaves como essa quanto para as que exigiam notas altíssimas. No entanto, parecia gostar mais de como se sentia quando trabalhava com peças como aquela. Podia sentir a fluidez da melodia como se a mesma a envolvesse. Com seus olhos cerrados, colocava-se por inteira em sua obra. Se pudesse, abraçaria a si mesma, agradecendo-se por ter pensado em um ritmo tão involvente.

Seus braços moviam-se lentamente e ela entrava no ritmo, tomando cuidado para continuar mantendo suas notas estáveis independente dos movimentos de seu corpo.


A repetição da letra não a incomodava. No final de tudo, era uma música pop. Não achava que todas as músicas pop deveriam ser cheias de significado e letras profundas. É claro que tinha escrito coisas para aquele mesmo álbum que eram embebidas de expressões bonitas e jogos de palavras, coisas com mensagens. Perfect Love era para ser uma representação de amor jovem, algo bobinho.

Dessa vez, no final da música, os produtores decidiram partir diretamente para a gravação dos vocais de fundo ao invés de fazê-la repetir. Talvez voltariam naquela música mais tarde, ou apenas tinham finalizado. Não sabia dizer apenas pela reação que lhe fora dada. Deu de ombros, confirmando com a cabeça que havia entendido e se preparando.

Não sabia dizer se seus fãs achariam que Perfect Love era a perfeição absoluta, ainda assim, esperava agradar os seus Luvs. Eles, além de um certo alguém, eram as pessoas que Yerin mais amava em sua vida, então tinha que os orgulhar.

No segundo em que sua pausa foi anunciada, Yerin correu para o sofá, envolvendo o torso de sua manager com seus braços. — 언니~. — Começou, esboçando o maior dos sorrisos para a mulher. Suas mãos se juntaram na frente de seu rosto, seus lábios se fechando em um bico. — Doce, por favor!~ — Choramingou, fechando os olhos e esperando a resposta. Sabia que era uma luta perdida, já que a mais velha nunca a deixaria burlar sua dieta. Uma garrafa foi colocada em seu colo, fazendo com que ela se assustasse, dando um pequeno pulinho. Decepcionada ao ver o conteúdo, bufou. “Chá? Pensei que fosse refrigerante...” Aceitou o seu destino, desistindo de reclamar.

Assim que deu fim em metade daquilo que preenchia o frasco, se virou para os profissionais responsáveis pela gravação. — Tem problema se fizermos Love, Luv Highway e depois Where You At? — A mudança na ordem das músicas parecia fazer sentido na mente de Yerin, já que a última era a que necessitava de emoções negativas. Com a permissão do produtor-chefe, ela riu baixinho, fazendo um coração com os dedos para ele.

Voltando para a cabine de gravação, a jovem não perdeu tempo. Estava na hora da gravação mais difícil do dia. Incluir uma faixa com rap quando não se é rapper era, definitivamente, um tiro no pé. Mesmo assim, era um risco que gostaria de tomar. Mostrar diversas faces de si para seus fãs os tornaria mais próximos, mesmo que cometesse erros no caminho.


Os treinos voltavam para sua mente, a voz de sua trainer ecoando em sua cabeça oca, lembrando-a de como as palavras deveriam ser pronunciadas. Com uma mão em sua barriga, controlava seu tempo e respiração o melhor que podia. Mantinha seus olhos fechados para ter o benefício da dúvida de que estava indo bem. Tinha medo de abrir os mesmos e ver caras assustadas a encarando.



De todas as músicas escritas para seu álbum, Trivia: Love era a mais complexa e a que levara mais tempo para ser composta. Os jogos de palavras a fizeram demorar um pouco mais na hora de a escrever, até teve que recorrer a alguns de seus sunbaes para receber dicas. No final, parecia compensar, já que era a mais divertida.

Com a chegada do refrão, a batida ficava mais rápida, então tinha que se esforçar ainda mais. Diferente das outras canções onde podia se perder em seus pensamentos enquanto cantava, aquela exigia tudo de si. Já que fazia de tudo por seus fãs, esse fato não era um problema.


O verso era difícil. Abriu seus olhos, olhando para onde os produtores e sua manager estavam. Tinha que encontrar algum sinal de que estava indo bem. Todos pareciam absorvidos em seus trabalhos, seus rostos indiferentes e sem nenhum sinal de que odiavam a performance de Yerin. Era suficiente para ela, por enquanto. Antes que pudesse seguir para o outro verso, recebeu um sinal de que poderia parar.

— Vamos tentar mais uma vez esse verso, certo? Não precisa correr, tente ir um pouco mais devagar. Você está indo bem, Yerin-ah. — Assentiu, feliz pelo elogio.

Na segunda tentativa, não houve interrupção, ela pôde continuar livremente.


Suas palmas deixaram seu abdômen, a liberdade do refrão a deixando mais leve. Lembrando-se de não correr, deixou que a melodia a guiasse, preocupando-se menos com a perfeição do que antes. Se acabasse não sendo do jeito que era necessário, poderiam facilmente repetir a gravação como já haviam feito.


Com o fim da música se aproximando, melhor ela se sentia. Era um alívio ter conseguido. Claro, tinham feito regravado um verso e provavelmente fariam uma segunda tentativa, mas sentia-se como se tivesse feito a maior parte da pior prova de matemática de sua vida e agora tinha apenas que voltar para resolver os problemas mais fáceis.  

Com um sorriso no rosto, as palavras finais, “단 한 사랑“, ecoavam em seu cérebro. Seus fãs eram o seu único amor e enquanto os orgulhasse, não via problema em repetir a mesma música um milhão de vezes dentro daquela cabine.

Diferente das músicas já gravadas, Luv Highway era extremamente calma. Uma melodia romântica e consideravelmente lenta envolvia o corpo de Yerin. Ela movia seus quadris para acompanhar aquilo que ouvia, os seus olhos procurando um lugar para focar. Ao fim da introdução, a suave voz atingiu o microfone, arrancando sorrisos daqueles que escutavam e faziam ajustes.


Dentre as músicas do álbum, aquela, — junto com Where You At —, era a mais mágica. O tipo perfeito de música para acalmar os seus fãs quando eles não conseguissem dormir, uma homenagem para aqueles que lhe davam tudo. Respirou fundo entre um verso e outro, mesmo a canção não exigindo um grande esforço de sua parte.

Enquanto Oh! my mistake era uma provocação brincalhona, Perfect Love uma representação de amor jovem, Trivia: Love um desafio para Yerin, Luv Highway era uma carta de amor para aqueles que estavam ao seu lado desde antes de seu debut.



A liberdade que sua empresa lhe dava era extremamente satisfatória. Se perguntava como seria a sua vida professional se não pudesse escrever e compor. Já haviam tantas restrições em seu modo de vida, se não pudesse expressar-se, mesmo que apenas em forma de letras, não sabia como viveria. Era grata, claro, por conseguir aquilo que muitos nunca conseguiriam. Ela tinha pessoas que a amavam, fama e até mesmo um pouco de dinheiro. Tinha um emprego pelo qual muitos lutariam, tinha tudo que podia pedir por e, no entanto, as vezes se encontrava pensando em coisas como essa.


Palavras voavam para fora de seus lábios com delicadeza, pintando um cenário para os ouvintes. Se tivesse que definir a música com uma palavra, Yerin diria refrescância. Era como uma pausa no meio de seu álbum, algo para tirar os seus fãs do universo do mesmo antes de sua finalização. Não era a música certa para ser a sua title track, mas ainda era algo que ela gostaria de poder expressar em vídeo. Talvez não como um clipe. Gostaria de fazer algo mais simples, algo original. Tomou nota disso, decidindo conversar com sua manager sobre isso depois.

O inglês em suas letras não era um grande problema, já que Yerin era praticamente fluente na língua graças aos seus pais. Até mesmo planejava lançar algo em inglês um dia, talvez até se tornasse a próxima Hannah Montana quando chegasse a hora.


A monotonia de um dia repleto de gravações começava a bater, fazendo com que a mulher quisesse acabar logo com aquilo. Depois que finalizassem tudo, talvez conseguisse escapar das garras de seus agentes para visitar Jaesun. Com essa esperança em mente, empurrou-se a prestar mais e mais atenção no que fazia. A sua mente parou de vagar, concentrando-se apenas no microfone e na música que tocava em seus fones de ouvido.


Repetindo o refrão, ela balançou a cabeça levemente, apreciando a batida. As notas ficavam mais altas em alguns pontos do verso, o que tornava a gravação menos tediosa. Não existia nada pior do que repetir a mesma coisa um milhão de vezes sem nenhuma alteração.

No final da melodia, os produtores sorriram para a garota. Com os polegares no ar, ela confirmou que estava perfeito. Rindo alto, estava extremamente feliz por ter agradado-os.

— Yerin-ah, perfeito! Mas vamos repetir o último refrão, okay? Tente ir um pouco mais alto na high-note. — Com as instruções dadas, voltou ao trabalho com um sorriso no rosto.