Através do reflexo do espelho o jovem solista acompanhava três dos seus dançarinos repassarem alguns movimentos da coreografia de paranoia e ao mesmo tempo ele aproveitava para relembrar. O líder do grupo parecia deter toda a paciência do mundo, principalmente levando em consideração que os outros dois nunca haviam se apresentado antes na vida. Era notório enxergar o rosto assustado dos dois garotos e um olhar de suplica.

Joon ainda permaneceu observando aquela cena enquanto a maquiadora lhe forçava a inchar a bochecha para aplicar uma camada de corretivo, iluminador e um pouco de rubor. Desde que o fandom havia lhe dado o título de bochecha de bolinho de arroz, a empresa estava se aproveitando daquilo para deixar ainda mais em evidência um traço que não era tão comum na Coréia do Sul. As coisas aos poucos estavam mudando e felizmente padrões de beleza estavam se tornando extensos, fato que beneficiava Joon por ter rosto bem redondo e bochechas grandes e fofas.

— É fácil! – Ele se desvencilhou do pincel de blush e foi até aos dois rapazes perdidos. — No começo eu não sabia fazer isso também – Ele fez o movimento de braço. — Eu fazia assim, oh. – Demonstrou do jeito mais fácil como havia aprendido. — E toda passada de coreografia eu percebia que meus movimentos ficavam mais próximos da realidade criada. – Ele sorriu docemente. — Não se cobrem tanto, vocês já são ótimos. – Deu um tapinha gentil nas costas do mais próximo e retornou para a cadeira, onde presenciou uma maquiadora bem chateada por ter sido interrompida no auge da sua criatividade de pintura facial. — Eles precisavam de ajuda. – Respondeu para a mulher, mas não pediu desculpas.

Não se mexeu no restante da maquiagem, fitando de vez em quando a coreografia deles e se alegrando ao perceber que retirando o peso dos ombros os dois dançarinos haviam melhorado um pouco nos movimentos tão rápidos de braços e mãos.  

— Acho que nunca vi seu fandom tão em peso quanto hoje. – Sua manager entrou no camarim. — Tem bastante gente hoje por causa das apresentações de peso.

— Acho que agora estou bem mais calmo. – Respondeu sarcasticamente o solista. — Obrigado, manager-nim por isso. – Embora aquilo não fosse novidade para ninguém. Nos fóruns em que ele acompanhava havia bastante gente curiosa com a sua nova música de trabalho, além claro das músicas de Mayu, Hot Pink e HYE. Era de se esperar que os fandom lotassem a plateia. Ele só esperava que os miracles não estivessem arrumando confusão com ninguém. Só os deuses sabiam como eles poderiam ser indigestos em alguns momentos. — Acho então que minha apresentação de hoje tem que ser melhor do que a que fiz com epiphany.

Ele ficou preocupado com aquela obrigação.

Minutos depois ele se dirigia pelo extenso corredor do estúdio do programa, se dirigindo a entrada do palco, local onde se encontrava Gayoung para entrevistar os participantes. Ele recebeu sinal para ficar afastado das câmeras, observando a apresentação de Seojun. Joon não conhecia o rapaz pessoalmente, mas havia ouvido seu single de debut e estava de fato satisfeito por ter alguém como ele na indústria musical. Ele conhecia o refrão de Candy e precisou de um autocontrole para não cantar. Quando a apresentação final, ele de onde estava bateu palmas timidamente.

— Ele é muito bom! – Sussurrou para a sua manager ao seu lado. — As apresentações de hoje foram fantásticas e só musica boa sendo promovida. – Ele disfarçou o nervosismo. — Espero que gostem da coreografia de paranoia. – Era a primeira vez que viriam a coreografia da música ao vivo.

Alguém lhe pediu para se aproximar da câmera e logo uma jovem muito sorridente veio com o microfone na sua direção, realizando perguntas gentis sobre o seu recente lançamento.

— Annyeonghaseyo! – Cumprimentou ele através das lentes das câmeras o publico de casa e em seguida em respeito se curvou um pouco em direção a apresentadora. — Paranoia é uma música de autoria minha que nasceu de um processo tão comum que aconteceu comigo. – Ele respondeu simplesmente. — E por enquanto está sendo meu xodó... – Ele foi desenrolando a entrevista respondendo gentilmente e sorrindo em alguns momentos. Na sua cabeça a voz de sua manager não parava de ecoar: “Sorria mais, você é muito bonito quando sorri. Todos gostam de rapazes bonitos que tem um sorriso bonito.”  

E ele não se esqueceu daquilo até o momento em que entrou no palco.

Seu fandom automaticamente se ligou ao vê-lo, mas ele não tinha como interagir devido a distância e os dançarinos que lhe tampavam a visão da plateia. Se posicionou atrás do seu coreógrafo e esperou o início dos arranjos instrumentais começarem.  


Conforme as primeiras sílabas da introdução eram ditas, ele subia as mãos pelas costas do dançarino, mostrando a todos sua luva de couro envernizado que fazia parte dos seus acessórios daquela apresentação. Por fim ele se desvencilhou do homem mostrando o rosto e com passos firmes se dirigiu ao centro do palco. A fumaça fictícia tomava conta do palco antes mesmo da primeira palavra ecoar dos lábios de Joon. O solista caiu de joelhos fitando o chão e então começou a cantar docemente. O microfone de rosto estava tão próximo dos seus lábios que ele não precisava aumentar o tom da voz, seguindo uma acústica agradável do estúdio. Dois dançarinos lhe acompanhavam naquela primeira etapa.

Ele ainda não fitava a plateia, mas ouvia o fanchant sendo cantado. Ele ficou de pé e começou a realizar os movimentos de braços e pernas, controlando a força dos movimentos para poupar energia para os refrãos. Devido a apresentação ao vivo, ele tentava poupar a potência da sua voz controlando-a para que ficasse sempre na região mediana. Ele tentaria realizar a apresentação se focar nos vocais, mas não por medo, queria que a coreografia ficasse em evidência e também evitando desafinar por não estar tão acostumado a cantar e dançar ao mesmo tempo.


A música foi se tornando mais forte nos arranjos e sua voz foi deixando o adocicado do timbre, assumindo o seu real tom. Seis dançarinos se juntaram aos dois, totalizando oito com ele ao centro com bastante destaque devido as roupas pretas dos bailarinos com a sua brilhosa e com acessórios chamativos. Deixou seus movimentos corporais tomarem força, pisando no solo com vontade e utilizando da expressão facial imposta na letra para aumentar a intensidade da coreografia. Ele girava o pescoço, erguia os braços e realizava os movimentos de jazz incluído em paranoia com no mínimo bastante aceitação.

A plateia que lhe acompanhava com o lightstick balançando no ar e que seguiam a sua carreira ecoava firme o fanchant que conforme se aproximava do refrão se tornava cada vez mais frequente.

Tentou usar um pouco da sensualidade na coreografia mexendo o quadril em movimentos rápidos conforme fitava a câmera principal e reduzia a sua voz para um timbre mais arrastado e despretensioso. Com o arranjo instrumental mais forte Joon conseguiu diminuir o tom e deixá-lo sexy, aproveitando que fitava a câmera principal de baixo para cima, pescoço meio caído, olhos vivos. Foi levando a apresentação daquele jeito, aproveitando alguns momentos para diminuir o ritmo e ganhar folego.


Sua voz assumiu um tom quase sussurrante que só foi preciso graças aos instrumentos diminuídos. Dizia cada palavra de forma simples, abusando de um brilho na técnica de forma que tornava ainda mais marcante conforme o volume subia. Seu corpo não precisava mais se locomover de um lado para o outro, ficando parado conforme realizava movimentos de braços e mãos. Em alguns momentos fechava o olho e quando os abria tentava demonstrar o sentimento daquela parte, como se agonia subisse pelas suas pernas e ao redor vultos aterrorizadores fechassem o circulo. Os bailarinos que estavam realizando a coreografia no chão já estavam subindo cronometrarem toda a música em passos iguais.

Fitou o teto respirando pausadamente para disfarçar o cansaço e soltou um pequeno timbre agudo fino e arrastado. Não havia muita potência na técnica utilizada, mas carregava as repetições de sílabas com emoção. Fitou a plateia e então enxergou pela primeira vez os cartazes direcionados para ele e também seu fandom balando seus instrumentos iluminados no ar e cantando o fanchant com bastante vontade. Aquilo o emocionou.

A apresentação terminou rapidamente após a preparação para o último refrão e antes que ele se desse conta estava deixando o palco com dançarinos contendo a alegria de uma boa apresentação. Foi somente deixar as câmeras para trás que entre suores começou uma cena nojenta de contatos físicos entre a equipe.

— Nossa... – Falou a sua manager. — Foi algo bem feito. – Aquilo vindo dela era um ótimo elogio. Ela lhe atirou uma toalha úmida nas costas e em seguida lhe empurrou uma garrafa de água.

— Os dançarinos estavam ótimos no palco, né? – Ele indagou percebendo que o coreografo estava caminhando próximo a ele. — Eles me deixaram inspirados a dançar com mais emoção. – Assentiu.

— Que bom, Youngsoo-nim. – Falou o homem. — Mas vi um erro bobo que você cometeu. – Ele não poupava palavras. — Vamos intensificar os ensaios antes das próximas apresentações? – Como dizer não para alguém que morava praticamente na empresa e respirava a sua carreira atualmente? Joon apenas assentiu sentindo a tensão deixar o seu corpo e só restar o cansaço da apresentação.