Eun Mi se sentia estranha. Havia alguns dias, um estranho muco havia saído de dentro de seu corpo e ela havia pesquisado o que era, se devia se preocupar ou não. É claro que ela se manteve calada, mesmo com o prelúdio do que aquilo significava. Se o bebê queria vir, era hora, certo? Quando a dor começou, Eun Mi ainda conseguia manter algum bom humor, ela estava com dor há mais de doze horas quando acordou de madrugada, pelo que parecera a milésima vez, com algo mais forte do que ela experienciara até então. Suspirou de modo pesado, sentindo a barriga dura e um “peso” incomum entre suas pernas.

Ela se levantou com cuidado, passando a andar pelo quarto em busca de algo que a ajudasse com a dor, quando ela vinha. Aumentando de maneira gradual e ritmada. Sabia dever acordar Joon Woo, mas ainda não queria acordá-lo. Porque queria esperar um pouco mais, não gostava de hospitais e a ideia de passar um tempo longo, esperando, a incomodava. Foi até o quarto do bebê, conferindo sua bolsa e a dele, verificando os documentos e parando para respirar sempre que uma nova onda de dor a atingia. Já passava das quatro da manhã quando ela ligou para o hospital onde fariam o parto.

Escolhera algo que lhe daria mais poder de escolha, maior liberdade. E só quando a bolsa estourou às cinco e meia, que ela finalmente se sentou na cama e sacudiu o marido com cuidado, respirando pela boca de modo a se controlar. — Oppa… você precisa acordar, hum? — olhou para a poça de água na porta do quarto. Precisaria limpar aquilo. Precisaria mesmo limpar aquilo depois. — Minha bolsa estourou. O bebê vai nascer. — grunhiu, apertando o braço dele, quando uma nova onda de dor, ainda mais intensa, arrancou seu ar.

Eunmi colocou o fino cardigan e esperou por Joon Woo para calçar os sapatos e sair com ele em direção ao carro. Estava bem. Tudo bem. Ela podia lidar com a dor, já vinha lidando com ela então, certo? Talvez, ela só não conseguisse falar. Porque tinha a sensação de que abrir a boca a faria gritar com o marido. Algo que ela nunca havia feito e se recusava a fazer agora.

Era assim que os bichos se sentiam em parir suas crias? Porque ela, definitivamente, se sentia mais próxima de um animal irracional do que de um animal irracional. Lembrava-se que, no início, tinha medo de acabar se borrando toda durante o parto. Parecia um medo patético agora que seu quadril parecia ter se deslocado de uma maneira que nunca mais teria concerto. Seus dedos ficavam brancos enquanto ela fechava as mãos em punho e precisou de toda sua força de vontade para não surtar.

Desceu do carro quando chegaram no hospital com Joon Woo e sentou-se na cadeira do corredor, esperando pela doula enquanto o marido lidava com a papelada. Ela queria dizer que ser mãe era o céu, mas àquela altura ela se sentia muito mais perto do inferno. Como as mulheres faziam aquilo há tantos anos?

Ela certamente devia estar fora de si quando acordara com o marido que era o momento de terem um filho. Se ajeitou na cama do quarto, reprimindo o impulso de chutar o médico quando ele se abaixou para ver se já era possível ver a cabeça do bebê. Ela nem havia se trocado ainda. Mas que diabos era aquilo? O médico não deveria estar ali a menos que houvesse um problema, certo? Seria porque ela ainda estava apenas com trinta e sete semanas? Havia algo de errado com o bebê?

Não. Aparentemente, estava tudo bem. Porque ele a deixou sozinha com a doula e sua assistente. O que a deixou mais aliviada. Seu único “porém” era… onde estava Joon Woo?!

Eun Mi deu um princípio de sorriso ao ver o marido, apertando sua mão com força quando ele se aproximou o suficiente. Não lhe importava que ele estivesse fazendo carinho em sua cabeça, ela realmente precisava apertar algo. E seria a mão dele. Assentiu para indicar estar bem, assim como o bebê. Ela iria conseguir, certo? Só precisava manter a calma e esperar pelo momento certo de empurrar.

Ainda assim, sua cabeça variava, como se ela estivesse à deriva, sempre que uma nova contração atingia seu corpo e roubava seu ar. As mulheres que haviam dito que não doía tanto assim com certeza estava mentido. Ou tinham uma tolerância para dor que ela só poderia sonhar em ter. Porque cada nova contração, mais longa e com menos espaço para ela descansar, era como se estivesse sendo punida por todos os erros de sua vida. Era daquele modo que as mulheres conseguiam se redimir por seus erros?

Sua boca estava seca, ela queria beber água. Mas tinha a sensação de que a dor a acertaria outra vez e acabaria morrendo engasgada se tentasse fazê-lo. Ela poderia pedir uma anestesia? Será que tornava as coisas mais fáceis? Provavelmente. Mas tinha medo de anestesia passar e ela não ter conseguido dar à luz ainda. E se a dor viesse pior? Não. Gradualmente parecia melhor. Uma maneira de se acostumar à tortura.

Foi quando a doula fez a verificação e percebeu que Eun Mi parecia pronta. Ela podia empurrar? E se não conseguisse? Empurrou o pensamento para o fundo de sua mente, confiando que se algo desse errado, Joon Woo conseguiria tomar a melhor e mais racional decisão que pudesse tomar. Ele precisava ser. Então, focou nas instruções da doula, fazendo força para colocar seu bebê no mundo, sabendo que aquilo seria igualmente exaustivo para a criança.

Estava com calor. E dor. E tudo parecia confuso. Nada mais além dela, da maldita dor e a voz da mulher existiam no quarto. Exceto pela mão de Joon Woo. Que ela tinha certeza que acabaria dolorida depois, mas aquilo realmente importava? Provavelmente não. Empurrou. Ela parecia estar empurrando por uma eternidade quando sua barriga desceu de uma vez, lhe dando uma sensação estranha. Estava meio anestesiada quando a dor reduziu, mas precisou empurrar - também - a placenta antes de finalmente poder respirar de maneira apropriada.

Parecia não respirar direito havia muito tempo. De todo modo, relaxou o aperto na mão do marido, até por não ter mais condições de colocar tanta força em qualquer parte do corpo. Se sentia mole, completamente derrotada. A única coisa que conseguiu foi pedir para ver o bebê. Porque ela, realmente, queria conseguir ver seu rosto.

Esperava se sentir melhor ao ver o bebê, mas não fora imediato. Olhou para o rosto pequeno e o abraçou, com certo receio de que ele caísse de seu colo se não o envolvesse. Ele parecia tão pequeno e, em simultâneo, tão grande. Eun Mi queria se sentar, mas honestamente, estava cansada demais para aquilo. Seu corpo todo parecia feito de alguma substância mole e pouco consistente e ela não sabia se ainda tinha força nos músculos.

Foi a voz do marido que a fez sorrir um pouco. Estava feliz que ele parecia contente e mal via o momento de poder se limpar e reaver um pouco da própria dignidade. Honestamente, era daquele jeito que funcionava sempre? Não que ela não amasse o filho, pensou consigo, mas parte de si, sentia precisar conhecer melhor a pequena criatura que trouxera ao mundo. Não sentira a tal conexão instantânea que todos falavam.

Ela o amava. Certamente o protegeria como pudesse, mas duvidava que tivesse estrelas nos olhos. Ainda assim, sentiu-se relutante em deixar o bebê ser levado para pesagem e tudo o mais que fosse necessário. O choro havia cessado, mas parte de Eun Mi ainda se sentia eufórica. Suas pernas estavam mesmo tremendo ou era apenas impressão sua?

Assentiu quando a doula disse que os deixaria sozinhos e olhou para Joon Woo com um sorriso e a expressão abatida. — Você pode me dar água? Que horas… que horas são? — perguntou. Haviam dito a hora em que seu filho nascera? Ela não conseguira ouvir. Só queria se limpar, mas, na verdade, estava fraca e cansada demais para fazer aquilo. Alguém viria lhe ajudar? Ela só queria mesmo dormir.

Ela observou Joon Woo. Sentia a boca seca, mas ao menos seu corpo parava de tremer e isso parecia bom sinal. Precisava ser, certo? O pensamento foi empurrado para o fundo de sua mente enquanto ela se esticava para se erguer o tronco de modo a beber d’água. Ela queria dormir pelas próximas setenta e duas horas, pelo ou menos.

— Estou bem. Só cansada. E com dor… — murmurou, se levantando quando a enfermeira entrou no quarto e disse que a ajudaria a se limpar. Ela podia perceber outra moça, aparentemente mais nova do que ela mesma, caminhando com a mulher mais velha até o pequeno banheiro. Ficou parada, segurando-se na barra de ferro na banheira enquanto a mulher usava lenços umedecidos para limpá-la. Deixou que sua roupa fosse tirada e aceitou a camisola de algodão, cor de rosa, que a enfermeira lhe oferecia.

Assentiu devagar quando ela indicou haver terminado logo após esfregar os lenços úmidos em seu rosto. Eram pequenos quadrados de algodão com água e sabão, seguidos de uma toalha fofa para secá-la. Eun Mi certamente achava a pior parte.

Retornou para o quarto, percebendo que a cama estava limpar e com lençóis novos, aceitando a ajuda para se deitar, um gritinho estrangulado saindo de sua garganta quando foi se sentar. Ela definitivamente ficaria dolorida por dias, não era? — Vamos… vamos demorar ao menos uns… dois anos, hum? Antes de ter outro. Eu realmente vou ter pesadelos se precisar passar por isso outra vez antes de dois anos.

O toque suave de Joon Woo a fez dar um sorriso fraco. Talvez se sentisse melhor quando acordasse depois, certo? Se deitou na cama com cuidado, sentindo como se todos os seus órgãos internos estivessem fora de lugar. E deviam estar mesmo. — Eu posso dormir, hum? Devem levar algumas horas até trazerem nosso Broto. — sorriu um pouco mais, olhando o marido com atenção.

Joon Woo era sempre tão doce e atencioso que, agora que a dor enlouquecedora passara, ela realmente conseguia se sentir muito grata por tê-lo consigo. — Olha só… — ela puxou o tecido da camisola para colá-la ao próprio corpo — parece que eu ainda estou grávida — completou com um pequeno bico, rindo fraco.

Sua mão encontrou a do marido e ela beijou suavemente seus dedos. Tentaria dormir, ao menos até trazerem seu bebê. A sede havia passado e ela se sentia cansada, com tanto sono que acreditava que iria cair no mundo dos sonhos a qualquer minuto. E, de fato, ela caiu. Sabia que teria, depois, de andar para desinchar e ajudar na recuperação. Será que conseguiria?