Sangwook estava sentindo-se ansioso havia alguns dias, pois não conseguia acertar algumas das notas de UN Village, o que era muito engraçado já que ele mesmo compusera a música alguns meses atrás quando conhecera Myunjin. O homem sabia que cantar não era lá das coisas mais fáceis, mas ele não esperava tanta dificuldade em uma música composta e que provavelmente seria produzida por ele mesmo. Seu sentimento de autocobrança parecia despertar conforme o tempo passava e se aproximava do dia de suas aulas de canto com uma professora que seus pais tinham pagado.

Era bastante irônico que um artista que queria ser independente e que havia passado por anos de treinamento numa empresa especializada em trainees de K-pop ainda encontrasse dificuldades em reproduzir algumas notas e, por conseguinte, livrar-se de manias e vícios de comportamento que, por anos, tinha sido incutido em si. Yoosang sentia-se o melhor, mas mesmo com essa sensação de autoconfiança e até um pouquinho de arrogância, em seu subconsciente entendia que, na verdade, ele queria ser reconhecido como o melhor e não seria errando notas básicas que isso aconteceria. Não queria nem um pouco dar o braço a torcer e admitir uma certa derrota, contudo, precisaria dos conselhos de alguém mais capaz que ele próprio para que seu futuro funcionasse.

Quando o jovem chegou na escola de música e perguntou pela professora, pediram para que ele esperasse ali por uns minutos porque ela ainda terminava com o aluno um pouco antes dele. Ele estava meio nervoso, afinal, era a primeira vez que ele se encontrava com um professor de música depois de tanto tempo. Yoosang não ficou parado, é claro, mas seus treinamentos não passavam dele e a companhia de um gravador e, raras vezes, Myunjin o ouvia cantar e dava algumas dicas que aprendia na empresa, contudo isso já não era suficiente. - Yoosang-ssi? Vamos lá? - O aspirante a cantor sequer tinha prestado atenção que o outro aluno já tinha saído, só foi desperto de seus pensamentos quando a voz feminina chegou aos seus ouvidos. Levantou-se e a seguiu até a sala pequena, mas confortável.   - Certo, me chamo Lim Na Ra, em que posso te ajudar? - A professora sorriu, esperando pela respostas do rapaz.

Parando para pensar, era uma nota até que simples, contudo, Yoosang não se sentia muito confiante em cantar em falsete. - Eu escrevi uma música. - Ele começou, olhando para ela. - Contudo, há algumas partes em falsete que eu simplesmente não consigo cantar. A minha voz falha e eu não consigo continuar. - Suspirou. Yoosang odiava admitir falhas. A professora então pediu para que ele cantasse os versos que encontrava dificuldade. Mais uma vez, respirou fundo e, com batidas leves dos pés no chão, sua mão acompanhou o ritmo e ele pôs-se a cantar a letra impressa numa folha.


Ao cantar “se você disser” o rapaz desafinou, subindo a nota com dificuldade e logo em seguida tentando controlar a voz para tentar o falsete, contudo, a tentativa foi demasiada falha e ele pode notar no torcer de nariz de Nara. - Me parece, Yoosang-ssi, que você está tentando muito e pensando demais. Como se você não estivesse aproveitando a música, mas se quisesse provar que você consegue. - Ela disse, pedindo licença em seguida e pegando ela mesma a folha. - Veja bem, vou te mostrar como você está fazendo.

A professora então entoou os versos como Yoosang e, ali, ele percebeu que estava realmente tentando mostrar que ele era o maioral, o próprio rei do canto e isso estava estragando sua música. De imediato, uma memória de um treinador de dança brigando com ele porque poderia se machucar a qualquer momento com tantos movimentos bruscos e, então, ele deixaria de ser aproveitável, pois tão danificado daquele jeito seria impossível treiná-lo.


Ele tentou mais cinco vezes, até finalmente conseguir chegar num limiar aproveitável de canto. Com aplausos, Nara o elogiou e pediu para que cantasse com outras estrofes para verificarem se o progresso feito realmente tinha se concretizado. Na verdade, Yoosang ainda tinha alguns receios sobre manter aquela parte, mas aos poucos reconhecia que seu esforço, num sentido de que ele tinha que curtir a música e deixar que as notas fluíssem naturalmente sem pressão e sem expectativas de nada. - Quando eu estava no treinamento, fui treinado mais para uma voz baixa..., mas quis inovar. - Ele explicou, antes de repetir o verso e adicionar o refrão.


- Wow, Yoosang-ssi! Ficou muito bom! - Ela aplaudiu. - Mas temos umas coisinhas a melhorar. Você parece ter alguma vergonha ao dizer “curtindo”, não precisa, deixa a sua voz sair naturalmente, sem forçar. Deixe que ela venha do peito, como se você expirasse o ar. - Mais uma vez, ela exemplificou, segurando a nota por alguns maiores segundos. - Faça como eu e coloque a mão na garganta e sinta o vibrar das suas cordas, enquanto o ar passa por elas.

Seguindo as recomendações, o cantor repetiu exatamente como ela havia explicado, de modo a deixar que a palavra curtindo mantivesse por um pouquinho mais de tempo sendo pronunciada, marcando também um pouco de sua pronúncia em inglês. De fato, a ajuda de Nara estava contribuindo mais para que a música ficasse menos maçante e ele conseguisse conectar alguns pontos que ainda pareciam soltos até o dia final de gravação, dali uns dias. Fazia algumas anotações na folha para depois passar para seu caderno e acompanhar direito durante a gravação.


Yoosang finalizou, recebendo outros aplausos de Nara. - Viu? Eu disse que você conseguiria. - Ela parabenizou. - Você pode melhorar muito, Yoosang-ssi. Antes de querer que todo mundo te escute, escute a si mesmo e entenda o que você está cantando e qual técnica você vai usar. Eu sei que te explicaram isso milhares de vezes e bem melhor do que eu estou fazendo agora. - O melhor de tudo, é que Yoosang sabia daquilo perfeitamente bem. Contudo, às vezes, aquela personalidade egocêntrica e mimada tomava conta de si e o tornava um completo quadrado em relação a si mesmo e isso o prejudicava em demasia.

Ele queria dar orgulho a seus pais, queria orgulhar Myunjin. Queria se orgulhar de si mesmo e, se acontecesse de ouvir alguma música na rádio, poder contentar-se em dizer: sou eu. E, mais do que isso, ouvir as pessoas falando de si e conquistar fãs não só na Coreia, mas pegar uma carona na onda de popularização mundial e fazer sucesso por toda a Ásia e no Ocidente. Ele queria muito e tinha potencial para alcançar o que quer que desejasse. - Obrigado, professora Im. Eu vou pensar muito no que você disse, foram ótimas dicas e sei que elas me ajudarão muito para deixar essa música com tudo o que ela pode ser. - O rapaz se encurvou, agradecendo-a formalmente e logo depois ouvindo que sempre que precisasse, ele podia marcar um horário com ela.

Provavelmente marcaria, ele gostaria de desenvolver mais suas habilidades e preparar a própria voz para alguns tons mais altos. Estava completamente satisfeito e muito contente com seu progresso, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros e ele conseguisse voar. Era tão pouco, mas aquela hora passada com a professora de canto, contribuiu para, minimamente, minimizar muito de sua personalidade autossuficiente e intocável que vinha alimentando muito incisivamente e que havia impedido de formar laços com seus ex-colegas trainees. Sangwook finalmente começava a entender que, por mais que ele estivesse certo em querer ser a atenção, ele precisava também medir-se e aprender como nem tudo o que ele quisesse ser seria perfeito.

UM Village era um claro exemplo disso.

parte treinada em coreano romanizado*: