Mayu ocupava o estúdio destinado a gravação e edição das músicas, naquele ponto ela suspeitava que poderia também servir como lugar onde as faixas eram escritas devido a quantidade de papéis dispostos na mesa e inúmeros lapis e canetas. Parecia adequado, de algum modo. Como era de costume ela conseguiu acordar cedo, convencendo Byeong Hoon — que era seu manager desde que havia debutado na Isao — a passar em um café, onde ela comprou algumas coisas para a produtora e o rapaz com quem gravaria, esperando que ambos gostassem do que tinha escolhido já que, apesar de Byeong Hoon também agenciar Tae Yeon, ele era quase uma porta para reparar em pequenas coisas e Mayu também não queria incomodar Shin com perguntas desnecessárias sobre uma coisa tão... pequena. De todo modo, a produtora, que tinha um sotaque no coreano mais acentuado que o dela, indicando claramente que não era daquele lugar, pareceu satisfeita com o que Mayu tinha comprado a julgar pelo copo já vazio.

A sua chegada antecipada ao estúdio tinha um propósito claro, já que naquele dia em específico ela iria apenas gravar a música principal, que tinha decidido com antecedência e também ensaiado incontáveis vezes, mas nunca acompanhada do outro artista. Ela sabia, no entanto, que após a gravação do álbum possivelmente teria alguma agenda de ensaio com Tae Yeon, já que aparentemente ele também participaria dos primeiros stages. Ao menos aquele era o plano da empresa, o que parecia bom. O outro motivo para sua chegada antecipada ao estúdio consistia em discutir sobre alguma das músicas que integrariam o seu próximo álbum, já que a empresa tinha — surpreendentemente — garantido uma quantidade elevada de demos para que pudesse escolher as músicas que se sentia confortável em cantar. Era uma mudança interessante e Mayu sentia-se mais próxima do seu trabalho daquele modo. Naturalmente ela tinha refletido ao longo dos dias e escolhido três músicas que mais dialogavam com a forma como se sentia naquele ponto da sua vida ou por terem uma boa sonoridade, os motivos não precisavam ser complexos, afinal.

— Eu pensei que essa música aqui poderia servir como abertura do álbum, mas não tenho certeza se consigo fazer esses pequenos raps.

Ela começou, apontando para a letra da música que estava impressa em cima de uma mesinha. O estúdio era pequeno, mas grande o suficiente para ter um sofá, duas poltronas e uma mesa de centro. Parecia útil. A produtora acenou com a cabeça, deslizando pelo acento até se apoiar no chão, alcançando a letra da música em questão. Ying Yue era, como Mayu tinha percebido, muito calma e ficava confortável rápido perto das pessoas. Ela tinha a escutado com facilidade, dando sua opinião e, em algum ponto, as duas acabaram debruçadas na mesa de mixagem com a chinesa mostrando que poderia fazer com que as partes que Mayu se sentia desconfortáveis em cantar fossem desaceleradas sem perder as características da música. Parecia bom. Mas aquele era, antes de tudo, um processo demorado e, com a chegada de Tae Yeon ao estúdio, ela se sentiu impelida a começar a gravação da música principal. Mas não sem antes de falar com o rapaz mais velho, indicando que havia comprado comida para ele, apesar de estar um pouco frio. Obviamente ela não tinha pensando tão longe.

De todo modo, Mayu entrou na cabine de gravação com uma garrafa de água e já com a voz aquecida graças às tentativas de acertar o tom de outra música.



O primeiro verso da música era difícil, com o tom mais maduro do que ela estava acostumada a utilizar, mas era algo bom ter desafios e novas propostas em seu trabalho. Naturalmente, antes de pedir que a gravação começasse, ela tentou cantar aquela parte algumas vezes, obtendo a opinião de Ying Yue e outro produtor que estava no estúdio. O suficiente para que ela se sentisse concentrada quando a batida característica começou, fechando os olhos e esvaziando a cabeça. Era uma boa forma de fazer com que não se sentisse em dúvida do que estava fazendo. Ela já era uma adulta e podia ocasionalmente exibir isso em suas músicas, por pura vontade, sem se sentir constrangida pelo tom adulto que tinha. Aquele pensamento parecia ser o adequado, já que aquela primeira gravação tinha ficado boa, porém ainda era necessário que gravassem mais algumas vezes antes de seguirem para a próxima parte e ela apenas bebeu um pouco de água, concordando com facilidade.



A próxima linha era um pouco mais complicada por conta das partes em inglês, mas Mayu sabia que o trecho deixava a música mais atraente para os fãs internacionais e podia facilmente entender o apelo de ter seu idol favorito arriscando o inglês. Novamente ela pediu auxílio dos produtores, principalmente nas partes de transição entre inglês e coreano que faziam com que seu cérebro quase sempre parasse de funcionar. Em algum ponto os três acabaram rindo da forma como ela pronunciava algumas coisas, mas não parecia grave o suficiente para que fosse retirado da música. Tanto que ela acabou gravando aquela parte algumas vezes, apenas para conseguir pegar o melhor da sua pronúncia, já que não exigia muito dos seus vocais. Apesar de não ser fácil, honestamente ela sabia que jamais seria capaz de cantar aquela música se estivessem em 2019.



O refrão era a parte favorita de Mayu se ela fosse opinar, tinha ensaiado tantas vezes que possivelmente conseguia cantar de trás para frente. Tanto que daquela vez ela pediu que gravassem direto. Tornando a fechar os olhos e se concentrar no sentimento que queria passar com a música, naturalmente dominando a arte de concentrar-se em sua pronúncia enquanto cantava. Ela sabia que seu coreano tinha melhorado bastante, mas ela nunca teria a pronúncia de um nativo e estava tudo bem, se considerado que as pessoas gostavam da forma como ela cantava. Mas ainda era uma preocupação saber se seria compreensível ou não.

Assim que terminou a primeira gravação Ying Yue indicou que iriam ouvir aquela parte e Mayu concordou, ouvindo com atenção os pontos levantados pela produtora sobre o que poderia melhorar e assim a segunda gravação do refrão continuou. Daquela vez ela se concentrou mais sem sua voz do que na pronúncia, segurando os fones de ouvido como se eles pudessem lhe fornecer alguma ajuda extra. E, de todo modo, eles ainda gravaram mais algumas vezes antes de seguirem para as próximas partes.



Mayu tinha bebido alguns goles de água, a ponto da garrafa estar com menos da metade de água, mas ela ainda não sentia vontade de ir ao banheiro. A gravação tinha avançado bem até aquele ponto e só faltavam mais algumas pequenas partes e então Tae Yeon poderia gravar seu rap e eles finalizaram a faixa principal do álbum que seria lançado em breve. Então após esticar os braços para cima algumas vezes, eles retomaram a gravação, indo para a parte que vinha antes do rap. Aquela parte tinha um vocal bastante colorido se Mayu pudesse pontuar com partes que tornavam a entrada do rap mais interessante e também poderia criar um contraste interessante com a voz dela e de Tae Yeon. Então ela se concentrou em seu tom de voz, tentando entregar tudo o que sabia ser capaz de fazer. A primeira gravação tinha ido bem, mas Mayu reconhecia a necessidade de refazer os vocais finais, já que sua voz tinha falhado um pouco, o que era bem comum. De todo modo a música parecia estar ficando ótima.

Mayu tinha se preparado para aquela música, focando no sentimento que queria passar, no entanto parecia diferente trazer toda aquela atmosfera para o estúdio, mas ela tinha tentado após entrar na cabine e dar alguns pulos, ignorando o riso dos produtores e focando exclusivamente em si mesma, dando um sinal positivo assim que se sentiu mais confiante.



O primeiro verso de automatic era lento e suave, o que combinava com o instrumental, porém esse era o maior problema para ela: manter o ritmo lento que a música pedia. Mas tinha ensaiado metodicamente para manter a voz lenta e interessante, quase sensual. Seus olhos se fechando enquanto enrolava o fio do fone no dedo, tentando sentir a batida e entregar alguma emoção enquanto cantava o verso inicial. Ela tinha cometido alguns erros de pronúncia, quase como se sua língua não conseguisse acompanhar seu cérebro, regravando o verso algumas vezes, antes que estivesse aceitável para ser utilizado.



O refrão, apesar de não parecer, era muito mais fácil de cantar do que o restante dos versos, apesar de manter o mesmo tom. Honestamente aquela música não era vocalmente um desafio para ela, no entanto, era algo que nunca tinha realmente feito musicalmente, uma música lenta, naquele estilo e que nada se aproximava de uma balada. A sua primeira gravação do refrão tinha corrido bem, pelo que percebeu, no entanto parecia faltar algo, pelo que a produtora lhe informou, abrindo o próprio microfone e indicando como ela deveria cantar certas partes. A segunda gravação tinha sido melhor, mas ela pediu para que gravassem novamente, tendo a certeza de que o material estava realmente bom antes de seguir para outras partes.



Após terminar o refrão ela acabou pedindo uma pequena pausa para que pudesse ir ao banheiro e beber mais água, retornando a cabine e respirando fundo mais algumas vezes para que pudesse entrar no mood certo para a música, tornando a fechar os olhos enquanto ouvia a batida e a forma como o instrumental influenciava em toda a vibe, tentando cantar da forma mais clara que conseguia, mantendo seu tom interessante para quem fosse escutar sua música em algum momento. E, como sempre acontecia, as transições para o inglês era sempre algo que acabava pesando para a Hirawa, que precisou respirar fundo e regravar apenas aquele trecho algumas vezes.



Ela continuou a gravação, até que chegassem até a ponte da música, com versos que não eram longos, muito pelo contrário, mas que pareciam durar longos segundos. Fechando os olhos enquanto focava especialmente no que precisava cantar, tentando não soar agoniada ao cantar. E, apesar da sua primeira tentativa não ter sido das melhores, Mayu sabia que poderia fazer aquela parte sem problemas, concordando com facilidade em gravar novamente, sabendo que ainda precisava gravar os vocais de fundo e tudo mais.

Enquanto esperava que os produtores lhe indicassem se podia ou não retornar para a cabine, ela acabou sentada no sofá com as letras das músicas que ainda precisava gravar em mãos, ouvindo a própria voz enquanto eles trabalhavam no que era necessário para que lançasse a música. Era um trabalho metódico, mas parecia dar bons resultados. Após alguns minutos ela finalmente retornou para a cabine, sabendo que gravariam uma das faixas que a tinham divertido desde que havia escutado a demo pela primeira vez. Aquecendo a voz novamente, quase como uma garantia.



O verso inicial era muito interessante de cantar, acompanhando o instrumental que parecia cheio de altos e baixos, com o intuito de tornar a música mais interessante. A sua pronúncia inicial tinha soado meio engraçada, então ela pediu, no meio do verso, para começar novamente. A sua segunda tentativa tinha soado melhor, mas Mayu ainda precisou gravar mais algumas vezes antes de seguir para outras partes, já que sua pronúncia do coreano não parecia soar tão boa assim.



Aquela parte em específico era a mais difícil para Mayu, por conta do inglês, mas ela tinha treinado o suficiente para que se sentisse minimamente confiantes, sabendo que era necessário gravar aquela parte algumas vezes com tons diferentes, começando pelo tom mais baixo que conseguia fazer sem forçar a garganta para atingir a nota, apenas se concentrando para que não acabasse errando a pronúncia das palavras, mas parecia ter corrido bem. Os produtores pareciam quase surpresos por ela conseguir cantar em um tom mais baixo, ainda que não fosse realmente impressionante. Continuando a gravar em outros tons até que pudesse seguir com a música.



Ao contrário do refrão de Automatic, o de Cool Hot Sweet Love era mais complicado, então Mayu precisou beber um pouco de água e se concentrar para que não acabasse invertendo a ordem das palavras e nem atrapalhar a pronúncia. Mas, na metade do refrão, ela acabou se embolando com as palavras, precisando iniciar a gravação novamente, o que já era esperado. Apenas conseguindo acertar a ordem correta na terceira gravação do refrão, ainda precisando refazê-la algumas vezes, o suficiente para que precisasse molhar a garganta e respirar um pouco.



Após a pausa, continuar com a gravação tinha sido mais fácil, principalmente se considerado que o resto da música parecia mais simples em comparação com o refrão. Ainda assim ela se concentrou enquanto cantava, colocando suas emoções no restante da música, desejando poder entregar um bom trabalho para as pessoas que a acompanhavam.

A última música do álbum era tão boa quanto as outras, com uma atmosfera que era diferente das anteriores, apesar de manter a ideia que os produtores tentaram passar com aquele álbum: de que ela não era mais uma adolescente. O que era apropriado para sua idade e maturidade, mas de uma forma nada explícita e delicada, explorando também sonoridades que não eram familiares para ela. Mas parecia bom finalmente lançar um álbum com músicas que gostava e que buscavam expandir sua carreira como artista. Naturalmente ela já tinha se preparado, indo ao banheiro para impedir que acabasse precisando parar a gravação. Também carregava a garrafa de água e já sabia o que os produtores queriam que ela entregasse nos primeiros versos.



A música começava de uma forma delicada, seguindo as batidas não muito pesadas do instrumental. Aquela música não era um grande desafio, se fosse honesta, mas ela gostava de toda a vibe que a música havia lhe passado e cantá-la também era agradável. Tanto que ela realmente não sentiu dificuldade em avançar pelos outros versos da música após repetir algumas vezes a gravação.



Os produtores tinham decidido gravar os versos e depois o refrão, de modo que ela acabou cantando o pequeno verso de rap, que usava um flow que Mayu nunca tinha experimentado até precisar praticar a música quando recebeu a demo dela. Era fácil de seguir, usando uma voz que usava muito da sua respiração e que encaixava bem no instrumental e na crescente da música. Pedindo para gravar mais algumas vezes já que, em algumas passagens, sua voz parecia ter respiração demais, o que não soava tão bem.



O término dos versos aconteceu com mais rapidez do que ela tinha esperado, fazendo com que acabasse indo para o refrão, que era basicamente a repetição em inglês do título da música. E tinha sido surpreendentemente mais fácil do que Mayu tinha previsto quando tinha recebido a demo, afinal eram poucas palavras. Mesmo assim ela gravou algumas vezes, principalmente por conta das vozes que tinham em segundo plano. O que colaborava para a construção final da música. Naturalmente ela ainda permaneceu no estúdio, por conta dos vocais de fundo e também por faltar gravar a ponte da música, mas estava satisfeita com o que tinha conseguido fazer até aquele momento.