long live

Dar adeus à Universidade Freie fora dolorido. Sua graduação já ocorrera há mais de um mês, mas ela ainda retornava ao local vez ou outra, era um local de encontro entre o grupo de amigos da Ahn. O complexo de prédios se estendia pelo quarteirão, parecendo muito mais aconchegante e confortável do que grandioso e imponente, como teria sido sua primeira impressão da instituição.  O campus era seu lar, fora seu lar. Ela teria de dizer adeus agora, assim como teria dito para a escola interna perto de Frankfurt. Ahn Hyejoon era expert em dar adeus, mas Julie Ahn odiava essa parte. Dar adeus à Alemanha era ainda mais significativo. O país que tinha a acolhido, que lhe deu um lar e amigos, e uma família. Era uma das últimas vezes que veria o prédio moderno da Freie em pelo menos alguns anos, segundo as instruções de seu tio. Julie sabia que provavelmente não seria visitada em Seul, ela não cortaria os laços com seus amigos, mas já era esperado que eles perdessem contato. Hyejoon estava acostumada com isso, e não esperava nada de diferente.

Ela tinha preenchido seus planos de retorno com pequenas formas de escapismo, com ideias para o blog que ela escreveria  e eventos que poderia presenciar. Aprender a tomar conta da empresa tomaria a maior parte de seu tempo em Seul, mas era a última coisa que ela queria pensar. Ela sentiria falta das classes nos laboratórios e as incontáveis palestras que pretendia odiar para ganhar simpatia de seus colegas, mas secretamente guardava cada segundo em seu coração. Aprender por aprender era divertido, aprender para passar o resto de sua vida com um emprego morônico, nem tanto.

Seus dias de liberdade estavam contados.

Em menos de 48 horas estaria pegando o jato de volta para Seul, exatamente. Seu voo estava marcado para dia 17 de Julho, aquele sábado, e a jovem não conseguia imaginar largar tudo que ela tinha construído ali em quase uma década morando no país. Em Seul ela voltaria a ser a sobrinha de Ahn Hwangsoo, herdeira modelo, sombra sem personalidade do CEO e dono de uma das empresas tecnológicas mais famosas na Coreia do Sul.

Ser Julie Ahn seria apenas uma lembrança distante do passado, assim como andar livremente pelas ruas, sem os olhares cuidadosos de seja qual funcionário que seu tio colocaria para vigiá-la.

Ela sentiu o vento atrapalhar seus cabelos, ela os tinha tingido de preto algumas semanas atrás, não mudando muito a cor do seu tom natural, mas dando um leve destaque para suas feições que Hyejoon tinha classificado como uma boa mudança. Nada tão extremo como os tons de ruivo ou loiro como já tinha experimentado, mas ainda sim uma mudança para fazê-la sentir-se melhor com tudo o que estava acontecendo. O dia estava ensolarado, era o meio do verão, e apesar de ser um país temperado, Berlim não era poupada do calor naqueles meses. Suas roupas estavam espelhando essa tendência, um leve vestido branco de linho adornava seu corpo, complementando perfeitamente o jardim onde a Ahn tinha combinado de almoçar com duas de suas amigas, Monika e Leah. Leah era uma velha amiga da escola, que também tinha vindo para Berlin para concluir seu curso superior, já Monika era outra aluna da área das ciências da Freie. As duas se deram bem imediatamente, quando Hyejoon as apresentou. Elas provavelmente continuariam sendo boas amigas por anos ainda, depois que a coreana se fosse da vida delas.

Era deprimente pensar na possível vida que ela perderia assim que colocasse o pé no avião.

Monika foi a primeira a chegar, o que não era uma surpresa, ela era bem conhecida por sua pontualidade e precisão, mas Leah não ficou muito atrás. A mesa que elas tinham escolhido tinha uma linda vista em uma área mais privativa do salão, mas em geral, o restaurante já era mais intimista que a maioria. Era Julie quem estava pagando, afinal, dinheiro não era um problema.

Nenhuma delas mencionou a partida da Ahn diretamente, o clima da conversa era agradável demais para lembrarem que aquele pequeno grupo seria desfeito, que todo contato que teriam era meramente online. Isso é, por algum tempo. Hyejoon não acreditava que, sem segundas intenções, alguém se interessaria por ela o suficiente.

A reunião foi agradável, a comida delicadamente temperada berrava "Europa" e nada das pimentas fortes e vermelhas que todo prato coreano parecia acompanhar. Existiam restaurantes assim em sua terra natal, mas ainda sim ela sentiria falta. Logo depois do almoço as duas amigas insistiram em a levar para um clube no centro da cidade onde outros colegas e amigos esperavam com bebidas para se despedirem da sua querida Julie.

Para Hyejoon era como celebrar o enterro de outra versão de si, mas ela o faria contente, com alguns litros de cerveja alemã e outros drinks não tão típicos. Hyejoon tomaria contente, se fosse significar se sentir assim por mais tempo.