Local: Incheon, South Korea
Data: 04 de Julgo
Participantes: Hrawa Koharu
Detalhes: Verão, ruas de Incheon, 25º C.

Como uma mulher adulta, Koharu podia muito bem cuidar da própria carreira. Por isso, ela aproveitou-se dos contatos que tinha com amigos do meio da moda no Japão e pediu que eles dessem uns dois ou três telefonemas para pessoas da mesma indústria na Coréia, de modo que ela fosse fazer algum trabalho. Por essa razão, ela se encontrava sob um sol brilhante com roupas que pareciam frescas, quando ela, na verdade, estava suando.

A japonesa posava para a câmera já com alguma familiaridade, não havia problemas para ela em manter-se ativa, deixando o casaco cair dos ombros enquanto olhava para o céu. Ela tinha plena ciência de que se encaixava muitíssimo bem nos padrões coreanos. Era magra, tinha pele muito branca, rosto pequeno e cabelos longos e pretos. Koharu não fazia esforço para estar daquele modo, só tinha muita sorte na genética.

Min Ah, a maquiadora, pediu para retocar a maquiagem nas partes em que seu rosto já dava sinais de oleosidade. Haru aproveitou esse tempo para tomar grandes goles d’água enquanto alguns auxiliares de Hyun Sik, o fotógrafo, usavam “mini ventiladores” para ela parar de suar. ― Como se sente em um conceito assim? ― perguntou o homem, olhando-a de cima abaixo. ― Me sinto bem, de verdade! Eu gosto desses conceitos de fotografia urbana. E acho que o contraste do ambiente com as roupas é excelente.

O homem riu um pouco, parecia ver que Koharu ainda não entendia muito da parte de modelagem, embora posasse bem. Ele apenas precisava orientá-la com a voz, sem parar para demonstrar a postura que ela deveria assumir ou tocar nela para colocá-la do modo que imaginava. Talvez pelos anos de atuação, a Hirawa não tinha dificuldades verdadeiras em manter-se atenta e pronta para executar a pose.

Koharu entrou na van e pegou um novo conjunto de peças, trocando-se com alguma pressa. Sentia que sua pele estava quente e ardia por causa do calor que fazia questão de consumi-la. Em verdade, ela não se sentia nervosa de estar ali. Sentira-se nervosa em sua primeira atuação, mais tarde, sentira-se nervosa em sua primeira cena onde beijava um garoto, alguns meses depois, sentiu o mesmo nervosismo quando precisou beijar uma garota. Em verdade, ela já havia atuado de quase todos os modos imagináveis, por isso, não havia segredo para a mulher. Não havia emoção nova em posar para fotos, embora, ela precisasse admitir, fosse muitíssimo mais fácil.

Desceu da van com um top branco, jeans de cintura baixa e boca de sino, um casaco de crochê e botas de cano curto com salto alto. Tinha uma mochila, que pendurou nas costas e passou a andar pela rua, vez ou outra olhando para as pessoas que pareciam intrigadas com ela.

Parou no meio do “beco”, olhando por cima do ombro com uma expressão desafiadora, assim como o fotógrafo indicara. Ela podia sentir-se realmente poderosa em algumas poses e gostava da sensação que as roupas, por mais estranhas que fossem, lhe traziam. Tinha um sorrisinho nos lábios ao abaixar-se e colocar as mãos sobre os joelhos, passando a língua por entre os lábios. Se eles a mandassem parecer ousada, pareceria. Em verdade, ela estava começando a ficar entediada.

Apoiou o queixo sobre as mãos, olhando para o chão em aparente desinteresse, ela sentia-se meio eufórica por conta da temperatura que ia se elevando, mas o que poderia fazer? Não muito, ela supunha.

Hyun Sik ofereceu-lhe um descanso, mas Haru negou. Queria mesmo era acabar logo com aquilo porque, no fim das contas, já estava fora de casa havia muito tempo. Em verdade, ela sentia-se um tanto quanto incômoda agora que morava na casa de seu irmão e não tinham mais Mayu por lá.

Era de extrema importância que ela ficasse com a sobrinha, ela sabia que era. Não queria que a caçula dos Hirawa se sentisse perdida como ela se sentira ao começar sua carreira, mas tudo que podia fazer era rezar para que Jeon Young Mi fosse mesmo a boa companhia que sua sobrinha assegurava.

Posou mais algumas vezes, encostando-se no muro de uma casa para a foto ou fazendo menção de jogar o casaco para o céu enquanto a mochila repousava a seus pés. Não estava muito interessada naquele conceito, não para o meio da tarde. Ela tinha uma vaga noção de que a luz amarelada do pôr-do-sol casaria melhor com fotos daquele tipo, mas quem era ela para opinar?

Duas horas e três mudas de roupa depois, Koharu foi liberada. Agradeceu pela oportunidade e abraçou Min Ah, deixando-lhe um beijo estalado na bochecha antes de colocar a roupa com a qual chegara ao local e pegar a própria bolsa a tiracolo, dando sinal para que algum dos táxis parasse.

Ela não se sentia tão... útil há bastante tempo. Talvez mudar de país tivesse sido uma boa ideia, afinal.