A porta do carro de Jin Joo bateu violentamente fazendo-a estremecer assustada lá dentro. O motorista envergonhado abaixou a cabeça deixando um suor escorrer pelo o seu rosto e nem ousou olhar a mulher pelo retrovisor quando entrou no banco de direção.
 
— Shin... – Jin Joo controlou a respiração aos poucos, se refazendo do susto tomado. Aos poucos deixava a frente de sua casa, afastando da sua rua e tomando a direção da sede da Dong Yul. — Omma vai fazer tudo o que puder para passar o final do ano com você, meu amor.  Mas, você sabe que tenho que trabalhar, cuidar de Soo Young. – Ela olhou pelo vidro, enxergando mães e filhos passeando alegremente em véspera de réveillon.
 
Infelizmente ela sempre tinha que deixar filhos e marido em troca de uma tarefa bem sucedida. Ah, as coisas e malabarismo que mulheres modernas do século 21 fazem para realizações pessoais.
 
— Omma também te ama. – Ela controlou a emoção. — Diga ao seu appa que levem você e sua irmã para a casa da sua avó. Se eu conseguir deixar a empresa antes da meia noite, é pra lá que irei. – E quando desligou o telefone ficou ali com o coração na mão.
 
Observou o motorista a encarando pelo vidro e logo Jin Joo retornou para a sua cara azeda de costume.
 
 
— Eles já deveriam ter chego. – Falou a mulher marcando o caminho do tapete com o seu salto alto. A assistente do programa já havia ido duas vezes no camarim de Soo Young para confirmar a apresentação. Fazia parte do roteiro ter certeza duas horas antes do aparecimento em rede nacional, só no caso de acontecer uma substituição de última hora. — Ligue para o celular de Soo Young. Agora! – Ordenou para a sua assistente.
 
Sua atenção voltou para as roupas dos dançarinos. Eles vestiam um traje branco tradicional, algo não muito chamativo, exceto a maquiagem feita.
 
— Essa maquiagem não. – Falou para a maquiadora do programa. — Se eles usarem uma maquiagem desse jeito Soo Young vai ter que usar o quê para se destacar? Nariz de palhaço? – Colocou a mão na cintura. — Querida, eu falei sério. Acabe logo essa maquiagem porque daqui a pouco meu agenciado vai está chegando e toda a atenção terá que ser concentrada nele. Se o estúdio tinha problemas com maquiadores era apenas avisar que eu trazia a equipe da Dong Yul. – Virou-se para um dos bailarinos. — E vocês não deveriam começar a se aquecer, passar os passos da música? Sei lá, apenas acho que esse camarim está cheio demais.
 
Escorregou em uma poltrona e sentiu os dedos tremendo de nervosismo.
 
No corredor um burburinho surgiu, dando a entender que alguém relativamente digno de um pouco de atenção passar por ele. Depois de alguns segundo os cabelos loiros de seu agenciado passou pela porta, ele e três seguranças. Se Jin Joo parecia vermelha de preocupação e nervosismo, Young-Soo parecia pálido, como se tivesse encontrado a morte recentemente.  

— Já era hora de aparecer. – Ele se ergueu de um pulo e colocou as mãos na cintura. — Onde vocês se enfiaram? – Ergueu a palma da mão aberta na direção do rapaz. — Não, não quero saber. – Andou até a mesa de buffet e retirou um prato, adicionando três morangos, uma maçã e uma banana. — Tome, coma! – Estendeu na direção do idol. — Agora que você chegou vou acompanhar a montagem do palco.

E deixou o camarim seguindo pelo corredor e entrando na parte restrita. Estendeu o crachá quando um dos seguranças tentou barra-la. Não parou a caminhada, observando a equipe da MBC andar calmamente de um lado para o outro. Eles ajeitavam os retoques finais, algumas luzes espalhadas, a árvore de fim de ano imponente, as duas poltronas brancas.

— Um pouco, sunbae. – Respondeu ele. — Mas, não fique preocupado, vamos chegar a tempo. – Ele olhava o relógio e o seu olhar dizia que o próprio não acreditava naquilo. — Vai dá tudo certo. 

Young Soo deu um pulo do banco traseiro quando o telefone tocou na sua mão. O visor anunciava Jin Joo, aquela era a milésima ligação dela, sem contar as mensagens. Deixou tocar, pois se atendesse ficaria ainda mais nervoso. Seus dedos tatearam a tela e logo o seu perfil do instagram foi aberto. Ficou ali respondendo alguns direct, ansioso todas as vezes que o carro andava mais um pouco. 

— Chegamos, sunbae. – Falou o motorista minutos depois. Young Soo havia se esquecido dos compromissos, respondia alguns fãs no aplicativo e nem percebeu que o imenso prédio da MBC já se mostrava imponente na sua frente. O motorista deu a volta, estacionando e logo em seguida colocou as mãos no rosto. — Acho que temos um problema. 

E então o rapaz olhou na direção apontada, vendo um grupo de garotas histéricas correndo na sua direção. Elas rodearam o carro, cada qual com um celular nas mãos. Os flashes não penetravam o vidro escuro do automóvel, mas os dedinhos delas batiam criando um barulho irritante. 

Algumas erguiam um pôster dele do primeiro álbum.  

Como o mar vermelho na histórica fictícia bíblica ocidental, o mar de fãs foi se abrindo, revelando homens altos, com ternos, microfones de ouvido e óculos escuros. Eles criaram um cordão, enquanto o motorista abria a porta de Young Soo e ele deixava o banco respirando fundo.  Ergueu as mãos e começou a acenar enquanto seguia para a entrada do estúdio. 

As fãs o seguiram até a altura da catraca, gritando, tirando fotos. 

Quando ele atravessou o primeiro corredor, ficou aliviado. Colocou o crachá de convidado no pescoço e seguiu em direção ao seu camarim. As pessoas que o viam passar suspiraram a acenavam para ele. Em um ponto não tão distante, um grupo de meninas se calou e logo depois foram na direção dele com papéis e canetas. 

— Quem permitiu a entrada delas? – Indagou um dos seguranças. 

— Tudo bem... – Respondeu Young Soo parando perto da primeira e retirando a caneta delicadamente de sua mão. — Para quem eu assino? – E em seguida autografou. Ficou ali uns cinco minutos, porque alguns funcionários que passavam também queria sua assinatura para suas filhas, sobrinhas, primas, irmãs. — Agora eu tenho mesmo que ir. – Falou acenando para os que ficaram e seguiu os seguranças. 

Assim que a porta do seu camarim abriu, ele viu os dançarinos e logo em seguida Jin Joo. Ela estava vermelha de raiva, e aquilo lembrou o rapaz que ele estava atrasado. O sangue fugiu do seu rosto. 

— ficamos presos no engarrafamento. – Ele explicou entrando no camarim. — E depois fui atacado duas vezes por fãs. – Ele focou a manager. — Alguém deve ter avisado no twitter onde eu estaria durante a tarde. – E logo Jin Joo desconversou, saindo pela porta e o deixando sozinho.  

Pegou o prato que sua manager havia lhe dado de frutas e andou até o banheiro. A sua roupa estava pendurada no cabideiro. Deixou prato do lado de fora e entrou fechando a porta. Retirou a vestimenta anterior e vestiu a blusa branca de mangas longas, larga e com pequenos detalhes pranteados. Em seguida subiu a calça pelas pernas, ela também branca, tecido maleável. Fechou aquela parte com um cinto prata. 

Quando deixou o banheiro, mordeu um pedaço da maça e se sentou na cadeira vaga em frente a um espelho. Em seguida mãos começaram a lhe tocar, molhando e modelando o seu cabelo. Não havia muito que fazer ali, portanto apenas adicionaram mais gel e finalizaram pranchando para ficar liso.

E abriram um estojo de maquiagem em sua frente. Ele estava relativamente calmo. Já havia passado por experiências mais pesadas e sabia que depois do Summer Pop Festival daquele ano, nada poderia ser mais estressante. 

E jogaram corretivo na sua pele, depois um lápis de olho marrom. Delinearam os seus lábios e passaram um batom rosa cor de pele. Fizeram uma linha no seu queixo mais deixa-lo mais fino e para finalizar vieram com lentes de contato azuis. Seria a primeira vez que ele usaria lentes na vida. 

E demorou um bom tempo para conseguir coloca-las. 

— Faltam 45 minutos para a apresentação. – Um rapaz bateu na porta e avisou em seguida. 

Os dançarinos já estavam se aquecendo naquele momento. Um assistente veio até Young Soo e prendeu o microfone na sua orelha direita, o aparelho transpassado com fitas incolor foi grudado na sua cintura e escondido pela blusa longa. 

Enquanto calcava as meias e sapatos, o rapaz aproveitou para aquecer a garganta. Iniciou com um o A em determinados tons, passou para o E, e seguiu ao final das vogais. Enquanto observava o início do programa, comeu o restante da maçã, toda uma banana e alguns morangos. 

Juntou-se ao restante do grupo onde começou a se aquecer, movimentando o pescoço para ambos os lados. Em seguida, esticou as mãos, os dedos, alongou a coluna e deu alguns pulinhos no mesmo lugar apenas para aquecer um pouco o rosto. 

Jin Joo surgiu na porta e acenou para ele e depois para o restante da equipe. 

— Está na hora! – Falou ela. — Vêm! 

E o rapaz seguiu a manager por um longo corredor, ouvindo a voz do apresentador cada vez mais perto. 

Ali havia dois palcos. O primeiro, utilizado pelo apresentador. Nele continha duas poltronas, um vaso de planta e uma mesa de centro com um bule de chá e xícaras para os convidados entrevistados. O segundo palco já era maior. A árvore de natal gigante com luzes piscando ficava naquele lado. Havia um telão grande, o palco era dividido em três andares. Dos dois, ele era o mais próximo da plateia. 

Young Soo ficou ali atrás da cortina, cabeça baixa. Os dançarinos se dividiram seis para cada lado. 

— E para começar o nosso programa especial de fim de ano. – Falou o apresentador. — Eu tenho a honra de apresentar o nosso primeiro convidado. – E algumas pessoas começaram a gritar, pois algumas fotos de Soo Young passavam no telão. — Soo Young! – Ele anunciou e o palco se apagou. A cortina subiu e o garoto se posicionou logo ali de cabeça baixa. 

“Betting on you”, ele começou a cantar e repetir a capella ao total de quatro vezes. Houve um silêncio no palco, apenas a plateia que gritava e quando a luz se acendeu, Soo Young olhou para a câmera principal. E no mesmo momento o violino iniciou. 

Ele grudou as mãos em frente ao corpo em direção as coxas. 

“Betting on you” iniciou agora com a ajuda dos instrumentos. Seus dedos apontavam para a plateia enquanto o corpo se movimentava para a direita, tudo no ritmo da batida. Repetiu o movimento de volta para a esquerda e ao final, mãos em frente ao corpo, movimentou o ombro em direção circular e terminou com um pulo. 

Afastou-se dos dançarinos que prosseguiram com a coreografia. Desceu um degrau e começou a cantar mirando a plateia. Fluiu a letra, mas o seu olhar estava astuto. Com atitude, ele andava de um lado para o outro. “Nan duryeowo manggajil naega” suas mãos subiram até o seu pescoço como se fosse se enforcar. Desceu os braços colocando no corpo e então se concentrou na sua melhor cara de abandonado, focando na câmera. 

Ao refrão, retornou ao centro e iniciou a coreografia iniciou, com o corpo indo para direita, esquerda, movimento de ombros e pulo.  

As pessoas cantavam junto. Alguns miracles ergueram bastões de cor azul royal e movimentavam no ritmo da música. A energia da plateia era ótima. E quando o telão atrás de Soo Young e os dançarinos se acendeu, pareceu iluminar ainda mais, deixando os detalhes pratas da camisa do rapaz ainda bem evidente. 

O single se encerrou com o garoto ao centro, os dançarinos ao redor dele como se fossem um escudo. A música parou, ele ajeitou o cabelo e olhou para a plateia e acenou levemente. O apresentador veio na sua direção. 

— E esse foi Soo Young. – Ele parou ao lado do garoto, os dançarinos se retirando do palco. — Rapaz, essa música foi boa demais. – E ele riu. — Que sucesso você está fazendo. 

— Obrigado, Iseul. – Falou o menino sorridente. — Eu queria agradecer a todos por ouvirem a minha música e acompanharem a minha carreira. 

— Esse ano a Dong Yul teve uma sorte grande em te contratar e debutar. – Falou Iseul. 

— Nada, a sorte foi minha. – Respondeu o garoto honestamente. — Esse ano de 2019 eu só tenho que agradecer pelas pessoas que entraram no meu caminho. A oportunidade que a Dong Yul tem para comigo. A dedicação da minha equipe, o cuidado que minha manager Jin Joo tem comigo. Aos meus seosaeng-nim que me ajudam todos os dias a melhorar. E a pessoas como você que abrem oportunidade para pessoas como eu mostrar a nossa arte e um pouco do nosso talento. 

— Boa sorte no ano que em breve se inicia. – Falou o apresentador. 

— Obrigado e feliz ano novo para você, saúde e paz. – Soo Young virou-se para a plateia. — Feliz 2020, miracles. – Acenou levemente e foi deixando o palco. Ouviu depois de alguns segundos Iseul prosseguir com o script do programa.  

Assim que deixou o palco, Jin Joo veio até ele e jogou uma garrafa de água. Ele pegou no ar e sorriu para ela. Como ela correspondeu, ele entendeu que havia sido uma boa apresentação. Retornaram ao camarim, onde ele trocaria e retornaria para a Dong Yul. A empresa seria a única que não apresentaria nada de fim de ano como as outras, o que era uma pena. Mas, por outro lado, Young Soo aproveitaria para descansar um pouco mais e se quem sabe convencer Jin Joo a levá-lo com ela para a festa na casa da omma dela. 

Esperança era a última que morria.