Um xingamento não muito lustroso saiu dos seus lábios, o som de vidro se quebrando e um pingos de sangue começando a manchar o piso de mármore branco. Foi assim que começou aquela noite para Gu Kyung Soon. Mordiscou o lábio inferior enquanto olhava para aquele desastre frustrada, um miado desconfiado soou aos seus ouvidos, rapidamente percebeu Mandu — seu gigantesco gato felpudo e alaranjado — aproximando-se como um bom...curioso que era.

— Shii, saia. — grunhiu, espantando-o para longe da cozinha. Evitou um suspiro enquanto seguia rumo até a pia para poder lavar em água corrente o ferimento. Estreitou um pouco os olhos sentindo o ardor passar pelo o local ferido, mas não era algo que não pudesse suportar, suas orbes castanhas-escurecidas observavam sem muito interesse a água cair ali. Parecia que toda semana que precedeu antes de sua viagem de volta para Coréia do Sul estava indo de mal a pior.

Apenas três dias e estaria de volta ao local que mais lhe trouxe pesadelos, mas também com as melhores memórias. Era até certo ponto contraditório, sua vida estava cheia de contradições. Sentiu algo martelar sua cabeça, era um aviso que uma enxaqueca estava vindo. Se Kyung Soon fosse sincera consigo mesma, ela saberia que não precisaria atravessar o mundo para provar digna de sumir o conglomerado que sempre foi seu. Supervisionava daqui da América desde que se tornou apta para posição, antes da metade da sua graduação em Harvard.

Sempre foi uma aprendiz rápida, mas parecia ser algo deste século; você aprende ou é devorado pelos mais fortes.

— Kyung — uma voz lhe puxou bruscamente dos seus pensamentos, uma voz que fez seus ouvidos quase entrarem para dentro de tão ruidosamente fina era. — Você está bem?

Seus olhos seguiram da mulher parada perto do balcão para a água caindo, ainda. — Estou. — respondeu sem muita reação, fechando a torneira e pressionando uma flanela cuidadosamente em sua mão machucada para secá-la. — Não mandei você ir embora? — arqueou uma sobrancelha, observando a mulher loura.

Maldita hora que a trouxe para sua cama. Era para ser uma única vez e estava perdurando, quase, mais de uma semana até agora. Seu olhar carregava desinteresse enquanto passava pela forma curvilínea da norte-americana; seios fartos, pele bronzeada, cabelos tão loiros quanto uma luz, mas era aí que acabava qualquer coisa atraente.

— Mas...eu pensei que agora — ela tentou novamente.

— Não tem mais. — seu inglês saíra mais cortante, um combo com seus olhos que brilhavam com certo deboche para a outra. Um sorriso gatuno apareceu em seus lábios. — O quê? Achou mesmo que manteria você por muito tempo? Você? Tão estúpida, o que tem para oferecer além de um corpo? Uma conversa agradável? Nada em você é interessante além do seu corpo. Você correu atrás de mim como um maldito cachorro, não tem vergonha, hm?

A mulher arregalou os olhos, seus lábios tremiam e seus olhos brilharam com as pequenas poças de lágrimas já formadas. Mas ainda paralisada como se as frases proferidas por Soon fossem veneno paralisante.

— Aish. — aproximou-se do balcão assim como uma cobra aproxima-se do seu alvo. — Além de estúpida é surda agora? Saia, não quero mais olhar para seu rosto, você me cansa.

Foi como se a outra tivesse despertado. Lágrimas escorrendo por seu rosto, lábios tremendo e uma falha na voz, não teve chance — ou simplesmente não encontrou palavras —, retirou-se apressadamente para recuperar suas roupas e, então, sair daquele apartamento que ficava no topo dos prédios residenciais de luxo mais caros que Nova Iorque poderia oferecer.

Kyung Soon soltou um suspiro interno ouvindo a porta se fechar com um baque. Estava finalmente só. Seus dedos, da mão não machucada, passaram pelo os fios escuros e longos jogando-os para trás, longe do seu rosto. Precisava pegar um band-aid e catar os cacos da taça quebrada.

Jogou os restos dos cacos no local certo para tal ato, pegou a garrafa de vinho e desistiu de utilizar uma taça, não teria ninguém vendo-a tomar de qualquer forma. Seguiu para a poltrona em frente a grande janela de vidro que refletia luzes noturnas da grande cidade, Mandu logo seguiu para deitar em seu colo com um miado reconfortante.

Sorveu do líquido alcoólico, saboreando o rico sabor que carregava. Estava frustrada com os recentes acontecimentos, nunca pensou nesses últimos doze anos em voltar para Coréia do Sul e já tinha tudo planejado em sua mente; mudar a sede do Grupo Shinhwa para fora da Ásia assim que pudesse. Agora? Agora teria que lidar com assuntos que enfiou longe dos seus pensamentos por um bom tempo.

Voltar para o seu berço, seu ninho de cobras.