Yoosang procurava meios de ser alguém por si próprio, mas nos últimos meses a sua família precisou ajuda-lo mais do que o recomendado para alguém com 23 anos, ou melhor, para ele apenas. Por mais que buscasse sempre chamar a atenção, fosse por sua altura, fosse por seu rosto que demonstrava uma inocência que ele certamente não tinha, o que o importava mesmo era ser notado e, após isso, conseguir sua própria liberdade. Sua criatividade estética parecia ter sido abandonada pelo caminho entre a casa de seus pais e o apartamento no bairro afastado que sequer parecia um apartamento, visto as condições em que se encontrava, contudo era tudo o que podia pagar com seus empregos de meio período e seus pais já faziam mais que o suficiente pagando pelos aluguéis dos estúdios em que passava algum tempo gravando demos ou apenas confirmando que algumas ideias não estavam fazendo sentido.

Além disso, os dias sem poder ver Myunjin também contribuíam para esse momento decadente por qual passava. Ele entendia que os agenciados consumiam muito do tempo do namorado e esconder a relação dos dois era igualmente cansativo para ambos, mesmo que necessário. Mas ainda assim, trocavam muitas mensagens nos espaços de folga do mais velho e isso já era o suficiente para que sorrisinhos bobos estivessem em seu rosto e atendesse os clientes com maior amabilidade.

Porém, Yoosang percebia aqueles dias como um motivador para que ele se erguesse depois e conseguisse ser o artista que tanto sonhava em ser e a mensagem de Venus só se mostrou a prova disso. Ele admirava o profissionalismo e a seriedade com que o garoto encarava seus trabalhos e, das letras que pôde ver, previa uma ascensão bem grande para o amigo mais novo. Assim, combinar aquele encontro seria bom para que pudesse espairecer e ver no que conseguiria contribuir com o outro rapaz.

Sangwook era um rapaz muito imediatista, portanto, antes mesmo de cumprimentar ao amigo, pediu um café americano para depois seguir até a mesa. Tirou a mochila das costas, deixando-a sobre uma das cadeiras e, finalmente, sorriu para ele. - Perdão pela demora, Minhyun-ah, acabei dormindo demais pois hoje era meu dia de folga. - Abaixou a cabeça em um cumprimento para ele, observando sua organização sobre a mesa. - Você está bem? - Logo depois, retirou algumas folhas, um caderno pequeno e um estojo da bolsa e os colocou também na mesa. - Eu trouxe mais algumas coisas para que talvez possamos ir anotando a mão para depois passar para o projeto, pode ser? - Perguntou, olhando ao redor para perceber a pouca movimentação do local, o que poderia ser considerado bom para o processo criativo deles.

Sang se divertia muito com a companhia de Minhyun, por mais que ele não usasse muitos honoríficos e se comportassem como se ambos tivessem a mesma idade, isso não era exatamente um problema. Na verdade, era até mais fácil assim, já que facilitava a comunicação entre os dois e tornava os encontros bem mais leves e agradáveis e fazia com que não houvesse aquelas barreiras chatas de comunicação. - Eu bem queria mesmo, mas faz um tempo que não nos vemos... Trabalho e tal. - Sorriu mais uma vez, deixando que no final um bico contrariado surgisse em seus lábios. Em seguida, Yoosang concordou com sua frase. Ele bem entendia aquela sensação que o mais novo sentia e, bem, não seria lá algo muito fácil de ser resolvido até que acabassem todo o processo.

O prato oferecido foi aceito e o mais velho pegou um dos macarons e deu uma mordiscada, fazendo uma careta por tanto que a sobremesa era doce. - Sentimentos da época de trainee, eu conheço bem. - Deu uma risadinha sem graça, pois era como voltar num túnel do tempo de sentimentos, sensações e todo tipo de amargura que um adolescente poderia passar estando sob os olhares cruéis de treinadores, além daquela competição em que os jovens eram colocados. - Eu acho que aqui, o principal é marcar que os pensamentos e a forma com que nos sentíamos tem alguma relação com uma ferida que talvez não se cicatrize. - Disse após um tempo relendo a letra e tentando encaixar alguma outra parte ali. - Algo como “os pensamentos ainda me atormentam | mesmo que eu os esconda”. - Anotando a frase em seu caderno, Yoosang, então, levantou os olhos para o amigo. - Porque, tipo, nós temos a certeza, ou pelo menos a vontade, de nos destacar um dia com a música.

É claro que a teoria era muito mais fácil que a prática, principalmente na vida dupla que Sangwook levava e a vida dificultosa que Minhyun também tinha. Aquela sensação de estarem os dois largados à própria sorte era extremamente desoladora, mas no fim das contas, o ex-trainee preferia assim. Considerando sua própria liberdade criativa e, de certa maneira, a não necessidade de ter que ceder espaço para os outros ou dividir holofotes com outros companheiros de grupo ajudava-o a pensar que sair da empresa não tinha sido exatamente uma escolha errada. - Enquanto eu vinha pra cá, pensei também em tentarmos colocar algo em inglês no final dessa estrofe. Pensar em algo do tipo “você não tem chance contra mim” ou “mesmo que você tente me derrubar, eu vou me levantar”. - Em seguida, Sangwook virou o caderno para Venus e apontou algumas linhas escritas. - Eu anotei algumas outras frases aqui, me dê sua opinião. - No caderno, algumas frases sobre tristeza ao enfrentar aquelas dificuldades, sobre transpor o desânimo e continuar em frente eram mostradas e elas em muito refletiam o que os dois passavam aqueles dias. - Eu não consegui fazer muito melhor, esses dias foram bem complicados... - Suspirou, bebendo de seu café após encerrar a sentença.

Sangwook gostava de como Minhyun se tornava profissional mesmo durante os gracejos deles. É claro que nem tudo é feito apenas levando uma seriedade doentia e a diversão moderada pode tornar todo o processo muito menos cansativo e ele gostava daquela leveza que o mais novo trazia para o ambiente. Sang estava muito ansioso para ver como Venus se sairia nos palcos e como sua música seria absorvida, ou não, naquela indústria tóxica, pois acreditava e via o potencial do menino quando se encontravam em algum karaokê ou coisa do tipo.

- Garoto, olha o respeito! - ralhou de brincadeira, sem verdadeiramente levar sua fala em consideração. Era até engraçado, pois os dois pareciam amigos de infância e isso também fazia o trabalho fluir, pois logo um pedaço da folha lhe era mostrado e Sangwook sorriu, vendo como suas palavras haviam se tornado letra rapidamente. - Gostei, nossa ficou demais! - Completou, conforme as linhas eram lidas e compreendidas, percebendo ali, de certa maneira, o sentimento dos dois sendo encaixados e contados em forma de poesia.

Yoosang assentiu por um momento, ficando em silêncio. Ali, a questão parecia muito sobre como os sentimentos deles eram ofuscados tanto por eles quanto pelas outras pessoas. Ele entendia bem a sensação de não ser desejado, não num sentido carnal, mas naquela motivação estúpida que o fazia viver como um robô à mercê dos gostos da empresa, dos treinadores e professores que em muito parecia apenas ter a função de desestabilizá-los de vez.

O mais velho percebia como aquele assunto, a música em si, mexia muito com Minhyun. É claro que um bom compositor está sempre envolvido com os sentimentos de sua letra, mas ali tinha um quê maior de proximidade. O que poderia significar muitas coisas, mas que no momento não cabia muito perguntar, pois os dois ainda tinham muito trabalho e talvez não conseguiriam se encontrar no futuro. - Sim... No final, não passamos de marionetes e tal. É uma realidade bem podre.

Tudo parecia ser insuficiente. Quando o mais novo entregou a letra nova, Yoosang novamente se pôs a pensar. Seu cérebro reorganizava as últimas falas dos dois e parecia traçar tudo com uma legenda, lembrando-o constante de quando era trainee e de todas as coisas ruins que precisou ouvir. Como se o brilho dele fosse lentamente encoberto por uma sombra que ia lentamente consumindo tudo.


- E se isso completar depois desse verso e a gente já emendasse aqui o refrão mais uma vez? - Yoosang perguntou com uma certa ansiedade, não desconsiderando as coisas ruins que pareciam ter emergido com a letra que Minhyun mostrou a ele. Em seguida, batucando com a ponta da caneta, ele ritmadamente cantou a letra que tinha escrito emendando com o refrão. - O que acha? - Sorriu, passando as frases para seu caderninho em seguida.

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- Verdade, ficaria legal nesse modelo. - Yoosang concordou com o posicionamento do outro em relação ao refrão. - Fora que, tipo, a maioria das pessoas não são muito chegadas em baladas, então fica melhor que seja algo que as toque e as identifiquem bem. - o aspirante a cantor, particularmente, gostava bastante de músicas mais lentas e baladas de modo geral, pois o ritmo calmo o ajudava a se concentrar e organizar melhor as ideias e, bem, essas músicas eram bem reconfortante de modo geral. Até mesmo ele tinha composto até ali algumas músicas mais calmas e lentas também, então não era de se estranhar que seu favoritismo fosse bem descarado.

Após aquelas junções, as dificuldades enfrentadas pelos dois começaram a se mostrar num bloqueio criativo que já levava um tempinho para ser resolvido. Nesse meio tempo, Sangwook pediu licença ao amigo para ir ao banheiro. Durante sua ausência, ele simplesmente não conseguia pensar em como resolver aquilo, porque nada que vinha em sua cabeça parecia minimamente musical. Tendo a honra do convite, não queria decepcionar Minhyun, portanto se esforçaria ao dobro ou ao triplo do que seria para si mesmo para que ele tivesse um bom debut.

Era até um pouco engraçado, ver um olhando para o outro e oferecendo alguma estrofe, mas sempre faltava um tchan. You never know tinha todo um sentimento por trás que não seria facilmente representado com qualquer amontoado de palavras, só para preencher os espaços vazios. Estava bem claro que os dois concordavam nisso, portanto, aquele momento ali gerava inúmeras frustrações. Sangwook retornou para a mesa trazendo dois pedaços de bolo e entregou um para Minhyun. - Aqui, talvez mais açúcar nos ajude. - Sentou-se e pôs-se novamente a observar seu caderno.

Durou mais algum tempo, ele sugeriu algumas estrofes e até mesmo um parte mais de rap, mas ambos sabiam que ela não se encaixaria ali. Sangwook já estava a ponto de lamentar e dizer para Minhyun continuar sem ele quando o mais novo lhe mostrou uma nova letra. - Wow. Nós temos que tirar um dia para conversarmos sobre os significados dessa letra, viu? - Yoosang disse com uma certa seriedade no seu tom de voz, porque era um tantinho preocupante para si o que o amigo estava passando que ainda não tinha lhe segredado.   - Eu gostei, dá para sinalizar bem com o sentimento de ser um idol.

Sangwook riu com a fala do amigo, levando um pedaço do próprio bolo à boca. - Eu amo que a gente vai sair da fossa pra uma rave. - Negou com a cabeça, logo voltando a prestar atenção nele. - Acho importante você buscar o mercado internacional também. Bom, considerando que pretendo vir com músicas que pessoas possam se identificar também, não sou eu que vou dizer para não fazer isso, muito pelo contrário, vou é comprar o primeiro álbum. - Riu, voltando a ler a letra mais calmamente.

O bom de ter se esforçado para aprender inglês tinha sido bem recompensador quando ele precisou raciocinar no idioma. - Acho que pelo ritmo que você quer chegar, nós podemos aqui brincar muito com as palavras. Tipo, algo sobre acordar, passar maquiagem, precisar de alguém. - Inconscientemente, bateu com o lápis no queixo, enquanto voltava a pensar como encaixar ali. - Me passa uma vibe bem ostentadora, algo meio sua negatividade vai me abalar. Tipo assim. dias negativos, noites negativas | baby, você está perdendo todo seu tempo | Eu não entendo, gosto de me sentir leve | sem drama na minha vida. - O que você acha? Perguntou, voltando a pensar e a anotar algumas coisas. Mostrou o caderno para ele novamente, com as frases que tinha pensando anteriormente. - Ó, dá pra gente complementar aqui. Você nem debutou e já está pensando em quem te odeia... - Negou com a cabeça, mostrando-lhe as letras juntas

letra original*: