Local:  Estúdio da Youth Unit.
Data: Presente.
Participantes: Cho Min Jung, manager e produtores.
Detalhes: 'interlude dream reality' and 'so far away'

Estar em um estúdio era... uma experiência diferente. Mesmo que ela houvesse gravado a demo para a faixa principal – se ela não soubesse que era um procedimento padrão poderia ter achado se tratar de um teste para que os produtores soubessem que ela era capaz de evocar os sentimentos necessário para a música. Havia pelo menos dois funcionários da empresa, entre eles um rapaz alto e bastante desengonçado que fazia questão de tornar o clima agradável a cada segundo, a ponto do outro produtor simplesmente mandá-lo se calar. Min Jung poderia ser facilmente grata ao rapaz em questão caso estivesse menos tensa para apreciar as piadas sem sentido e falta de jeito do produtor mais jovem. Porém seus pensamentos buscavam se conectar com as músicas que iria gravar naquele dia. E a primeira faixa era Dream – ao menos era como ela chamava mentalmente.

A primeira vez que havia ouvido a mesma a adolescente tinham sentido o nó se formar na própria garganta e uma sensação potente de que o instrumental evocava cada fibra do que ela gostaria de passar com aquele mini álbum: a sensação de sonhar, de cair e de precisar levantar, tudo por aquele sonho. Havia outros sentimentos pelo meio, mas aqueles eram os principais que se passavam pela mente de Min Jung. Ela ouviu atentamente tudo o que os produtores tinham a falar, sobre os sentimentos que eram necessários e como sua voz deveria soar... mas Min Jung sentia como se não fosse necessário tudo aquilo, afinal ela já havia encontrado os sentimentos necessários, mas ela não informou aos produtores sobre o fato, apenas assentindo para eles. Adentrando na cabine do estúdio onde o som de fato era capturado.

O local era revestido de forma que a acústica era a melhor possível e ela logo descobriu que os produtores tinham um sistema de som para se comunicar com ela, o que foi recebido com um grande susto que fez com que os dois homens rissem por uns bons minutos enquanto Min Jung tentava acalmar o próprio coração do susto que não esperava tomar. E quando ela estava calma o suficiente, ela precisou respirar algumas vezes antes de puxar todo o sentimento que habitava seu coração. Ela não gostava, mas era necessário se expor daquela forma, afinal Min Jung queria que seu trabalho fosse bem reconhecido. Que as pessoas pudessem se identificar com sua música e que pudessem sentir emoção em cada palavra que ela pronunciava.

Então ela se lembrou das noites que havia passado acordada, treinando e dançando por seu sonho. O quão cansada ela esteve por suportar a pressão da escola e na empresa o quão ruim era pensar que ela poderia ter o contrato anulado e pensamento de que não era tão boa quanto as outras trainees. Mas ela ainda era capaz de sonhar e queria perseguir seus desejos. A batida inicial começou e junto com ela uma onda de tristeza veio até Min Jung, mas a tristeza era o sentimento inicial e com isso ela pronunciou a única palavra que persistia pelo instrumental turbulento:


Mas em meio a tristeza também existia a esperança e o desejo de que as coisas realmente funcionassem, de que tudo desse certo. A vida era dura, Min Jung não era uma criança apesar da pouca idade que tinha, ela sabia do quão devastadora poderia ser a indústria. E lá estava ela, assim como centenas de trainees, sonhando.

A composição e letra de 'So Far Away' carregavam boa parte dos sentimentos de Min Jung. Em cada palavra havia mais verdade do que ela se permitia verbalizar para as pessoas próximas, até mesmo para seus pais e irmã. A estrutura da música foi construída ao acaso e ela se lembrava firmemente de estar sentada em um canto no banheiro da escola, com mais lagrimas no rosto do que se orgulhava de admitir. Naquele dia ela implorava para que seus sonhos fossem concretos e realizados como a verdade e parte das palavras que ela havia pronunciado em uma prece desesperava a qualquer entidade ou divindade estavam presentes naquela música, pois mesmo depois de um ano, Min Jung ainda se sentia da mesma forma e aquela letra... a lembrava de não desistir. E agora ela estava ali, graças aos próprios esforços.

Ela não queria ir para uma faculdade, ter um emprego formal e viver nas sombras do que gostaria de ter sido. Ela era dona do próprio destino e se as coisas fossem mais fáceis talvez ela não estivesse tão abalada emocionalmente como estava até o anúncio do debut. Mas aquilo... aquilo era o que Min Jung queria fazer pelo resto dos seus dias. Ser capaz de seguir o sonho de estar no palco, escrevendo músicas e as passando para as pessoas, lhes dando algum significado para fugir da rotina árdua. Foram incontáveis as vezes que a música serviu como um refúgio para ela. Depois veio e rap e por último a dança. E tudo aquilo estava firmemente enraizado em quem a jovem Cho era. Sem música Min Jung não existia. Então ela dedicaria sua vida a música.

Parte das letras havia sofrido uma pequena alteração e ela sabia que uma parte seria censurada na versão final, pois não seria bonito que uma letra com referências ao suicídio fosse a público sem qualquer modificação e de forma direta. Assim como referências a bebidas, não que Min Jung já houvesse bebido alguma vez, mas o sentimento de desejar poder se desligar da própria realidade difícil era forte demais, principalmente quando a irmã não alcançou o sucesso estimado e... parecia cada vez mais triste. Naqueles dias ela desejava poder beber e esquecer o próprio nome e dor que sentia.

A indústria nunca foi justa com ninguém. E 'So Far Away' era o pontapé e indicação de tudo que Min Jung era: uma menina frágil, mas com uma dedicação e um sonho que não seriam vencidos por nada. Caso fracassasse ela voltaria com uma versão melhor de si mesma, com habilidades melhores e uma dedicação ainda mais implacável. Min Jung não conhecia nãos. E eram naqueles sentimentos que a mente dela navegava quando os produtores indicaram que iriam gravar a música toda de uma só vez. A voz de ambos soando em segundo plano para a adolescente, que se concentrava em manter a memórias vividas, mas de forma que não acabasse chorando ao lembrar de tudo que havia passado para chegar até ali. E quando a música começou, a batida sendo recebida com nada além de um carinho esmagador, ela teve a certeza que aquele era o sentimento correto.

Sua voz soava... destemida, mas havia fragilidade pela crescente vontade de chorar e honestamente ela poderia supor que era adequado. Afinal ela realmente sentia cada uma daquelas palavras.


O refrão invocava notas altas em cada silaba, como se sua voz realmente estivesse longe ou como um sonho. Sua voz cantada era diferente da que usava para fazer rap e cantar era difícil para a adolescente, principalmente pela quantidade de notas altas e sentimento que ela precisava aplicar de forma leve... E assim que terminou o primeiro trecho de rap, ela pediu que a gravação parasse, limpando o rastro de lágrimas que havia em seus olhos, bebendo água e aquecendo a garganta. O olhar de respeito nos olhos dos produtores a envergonhava minimamente, afinal ela estava expondo seus sentimentos.

Então a adolescente questionou como deveria cantar o pré-refrão, ouvindo o produtor mais novo murmurar pelo sistema de áudio que deveria emendar as notas e forma que sua voz não quebrasse e desse um sentimento de continuidade. E Min Jung tentou administrar a própria voz, cantando a forma como o produtor havia indicado, recebendo algumas instruções até que ambos estivessem satisfeitos e a música voltasse a tocar.


Fechar os olhos foi inevitável para ela, que se concentrava na própria voz e sentimento que queria passar. Sentindo a sensação de desejo e de que estava perdida subindo pela própria garganta. Ela tinha um sonho e um propósito para lutar, mas havia pessoas que não tinham sonhos ou coisas que queria fazer. E até aquelas que perderam a fé nos próprios sonhos. Cada vez mais ela sentia como se pedisse a uma força maior que tudo pudesse ficar bem. Daquela vez ela sabia que o refrão, em um misto de rap e vocal, iria exigir dela. Mas Min Jung sequer pensou em pedir que a gravação fosse parada novamente, ela se sentia como se estivesse naquele banheiro de novo, vendo a si mesma no chão e debulhada em lágrimas, mas era como se visse uma versão passada e que havia crescido em caminhos cheios de espinho. Ela tinha crescido, seu sonho estava sendo concretizado e alcançado. Ela manteve os olhos fechados.


O sentimento de estar em uma montanha-russa era comum a ela, afinal duvidar de que seria realmente capaz de alcançar aquilo que almejava sempre esteve presente para ela, mesmo que também tivesse esperança. E agora Min Jung sentia medo do fracasso. Mas o que seria dela se não tivesse aqueles sentimentos? Eles a tornavam humana. E com os olhos fechados e pressionados pelas pálpebras, o seu segundo rap começou e sua voz ainda estava estável, mas soava carregada. E ela não pode se culpar, os sentimentos que eram evocados nos primeiros versos eram pesados. Aquele verso a lembrava de tempos mais difíceis do que o próprio período de treinamento, enquanto corria de um lado a outro, sem vontade de viver e sem qualquer propósito para existir ou com a própria vida. Ela já esteve perdida.


A última frase foi pronunciada como um sussurro e Min Jung sentia o rosto molhada com as lagrimas. Em algum momento a adolescente ouviu a música ser parada e respirou fundo, a voz do produtor anunciava que ela poderia querer alguns minutos sozinha antes de continuar a gravação. E ela respirou fundo, abaixando o rosto. Ela não gostaria que nenhum deles pudesse ver seus sentimentos tão expressos em seu rosto.