O rosto de Mayu estava sério enquanto ela lia atentamente as pequenas modificações na letra de Ayaya – ou Hush, como era também chamada –, prestando atenção nas pequenas mudanças vocais implantadas e nos pequenos símbolos que indicavam pausas no instrumental, possivelmente para que ela pudesse cantar e dançar com facilidade. Apesar da música ter algumas notas altas e uma parte de rap bastante rápida, nessas partes Mayu esperava honestamente que ela pudesse permanecer parada ou se mover de forma que sua respiração não virasse uma bagunça. Ela tinha chegado ao estúdio da empresa tinha pouquíssimo tempo e ainda trajava a roupa da escola, não se importando em trocar de roupa. Afinal iria gravar as faixas do álbum e possivelmente ir para os dormitórios estudar, então ela se concentrava em testar a própria voz com as mudanças oferecidas pelos produtores.

Não eram modificações absurdas, porém não era tão simples assim, então era notável que estavam lhe dando algum tempo para processar as novas pausas e as mesmas poderiam até ser arrumadas na hora da gravação. Cortando a música e gravando tudo por partes, porém a adolescente não achava que seria necessário. Passando a aquecer a voz após cantar a música algumas vezes, focando nas mudanças e no rap. Ela carregava uma garrafa de água e alguns papéis rabiscados – com a própria escrita e a de outras pessoas – com a letra das duas músicas, deixando a mochila cheia de livros no sofá do estúdio. Não demorando até que Mayu entrasse na cabine, encaixando os fones e bebendo alguns goles de água com calma.

O processo de se preparar para um comeback era exaustivo, mas ela se sentia mais preparada e muito melhor do que se sentia em relação a Love Cherry Motion. Ela havia treinado as músicas com afinco, de forma que conhecia o tempo das duas de forma perfeita. Cada batida e mudança no instrumental. Naturalmente ela conhecia as letras muito bem. Desde que havia participado do Sunshine a adolescente tinha passado a se preocupar também com sua pronúncia, trabalhando duro para conseguir falar um coreano cada vez mais limpo e fácil de ouvir. Possivelmente sua professora da escola nunca tinha a visto tão dedicada a matéria.

Ela se sentia confiante em relação as duas músicas do mini-álbum.

Após alguns segundos ouvindo a instrução dos produtores, a gravação finalmente começou. Depois dela concordar em gravar a música primeiro e backvocals depois, sorrindo de forma calma. E logo o instrumental da demo estava tocando em seus fones.


O início da canção era agradável e nada brusco, era um dos tons que Mayu sentia-se confiante para cantar. Usando um timbre de voz que lhe era mais fácil e natural. Antes de ter aula de canto era o tom que lhe vinha com mais facilidade. E sua voz parecia doce enquanto suas palavras pronunciavam o que poderia ser a sua sensação de estar no palco com facilidade. Ao contrário de maioria das músicas de K-Pop que tinham letras mais fáceis e pronunciáveis, Hush era um pouco complicada principalmente por conta dos verbos. Mas aquela parte não tão rápida fornecia a base para que Mayu não tivesse problemas em pronunciar as palavras por completo, sem pular sílabas ou pronunciá-las de forma totalmente contrária. Lhe dando tempo para se concentrar na sensação que o palco lhe causava, uma emoção que parecia transbordar. E seu corpo se movia sozinho, levando pelo impulso de brilhar. Quando a música seguiu Mayu estava sorrindo, um sorriso próximo dos que ela exibia em seus melhores dias.


Havia uma mudança de timbre naquela parte em específico, mas tudo parecia combinar com a letra – que ela tinha participado da composição, apesar de mais sugerir mudanças e adaptações. Ela sabia que sua voz tinha que soar confiante, como o trecho sugeria, então ela se preparou, respirando nas pausas de forma controlada e sentindo a abertura na garganta mudar conforme havia treinado, puxando um tom de voz que soava bastante confiante e girl crush em sua opinião. Mas ela acabou se embolando ao se esquecer da parte final, que tinha sido adicionada na mais recente modificação. Não sendo uma surpresa quando a música parou e os produtores indicaram que iriam gravar aquela parte novamente. Então Mayu se preparou sorrindo, satisfeita por não terem falado que sua pronúncia estava errada de algum modo.

Novamente, ela se concentrou e quando a música começou novamente foi fácil para ela se lembrar dos AYAYA a serem pronunciados no final do trecho. Seguindo para as próximas partes que pareciam uma mescla entre tons baixos e altos, doces e confiantes. O que era uma mudança interessante, sabendo que alguns de seus fãs poderiam vê-la como confiante no palco, mas doce em fanmeetings etc.


Assim como toda a primeira parte da música o refrão era estruturado para caber notas baixas, como a primeira estrofe, seguido de notas altas como os demais trechos. Era uma composição interessante e as pausas fornecidas pelo instrumental conferia tempo para que Mayu respirasse e direcionasse sua voz para o jeito correto e como desejava que soasse, apesar da sua voz ter quebrado assim que pronunciou o primeiro 'Hush', soando bastante estranha. O que ocasionou uma nova pausa para que ela pudesse beber água e aquecer a voz novamente, ouvindo os produtores falarem com calma sobre ela não se sentir nervosa e que estava indo bem.

Mayu estava se sentindo bem e confiante consigo mesma, sorrindo e assentindo, quase como se fosse ela a tranquilizar os produtores e não o contrário. Garantindo uma boa gravação assim que a música tocou novamente, a voz se tornando baixa novamente enquanto pronunciava as duas últimas estrofes. Sentindo-se particularmente satisfeita com o resultado que havia entregado.


Após o refrão era o rap. E, apesar de Mayu se sentir bastante confiante com a parte inicial, a segunda era bastante rápida apesar de não se estender por muito tempo. Mesmo ensaiando bastante para entregar bons resultados era impossível para ela não sentir algum nervosismo em relação às partes de rap. Mas ela suspirou, puxando o sentimento de estar em meio a muitas pessoas, como se fosse extremamente importante. Logo ela passou a pronunciar a primeira parte, sabendo que conseguiria sem problemas, porém foi impossível que ela não se embolasse na segunda parte, quase no final. Pronunciando de forma bastante afobada e terminando com uma risada de nervoso, que foi acompanhada pelos produtores assim que a música parou.

Não demorou até que ela estivesse gravando novamente, sem sucesso, porém determinada a acertar da forma como acontecia nos treinos. E, após quatro tentativas, Mayu resolveu fechar os olhos após beber uma quantidade absurda de água e se concentrar só na música e não em sua frustração por não conseguir concluir o rap bem. E acabou que o resultado foi aceitável, fazendo ela perceber que eles retornariam para gravar o rap novamente. Mas ela se sentia aliviada por não estarem insistindo naquela parte de novo, ao menos por enquanto.


Após cantar o refrão novamente, com alguns versos que se repetiam o instrumental mudava, mas não drasticamente, indicando uma transição com o final da música. Aquela parte não era particularmente difícil ou diferente. Era bastante calma e seguindo o instrumental, mas muito bonita de ouvir. Então ela se concentrou em como sua voz soava, controlando a pronúncia e mantendo a voz baixa nos primeiros quatro versos, como era necessário. E aquelas partes não lhe ofereceram dificuldade, porém nos últimos trechos ela sabia que sua voz deveria entrar em uma crescente, culminando em uma high note que, particularmente, Mayu considerava bastante ambiciosa por parte dos produtores. Principalmente por confiarem nela para segurar a nota daquela forma.

Sendo necessário que gravassem duas vezes para ela conseguisse acertar as notas que eram necessárias e, quando a música terminou ela percebeu que sentia uma pequena dor na garganta. Bebendo água quase de imediato e passando a aquecer a voz, consciente que iriam gravar os back vocals e o rap novamente, talvez até mais partes.

Foi inevitável para Mayu não ir ao banheiro após a finalização de Ayaya, consciente de que havia ficado no estúdio por duas horas. Naquele tempo a adolescente aproveitou para conseguir uma nova garrafa de água e para enviar mensagens para o manager, informando sobre um rumor do lançamento de um jogo. Bastante consciente de que talvez os produtores achassem que ela pudesse estar tendo uma dor de barriga terrível. Mas assim que ela retornou, percebeu que os dois homens de meia idade pareciam engajados em uma discussão sobre algum instrumental de algo que estavam trabalhando.

Ela naturalmente os cumprimentou novamente, entrando na cabine enquanto folheada as letras de Forever Young. Não demorando até que estivesse com os fones encaixados na cabeça e esperando pelas instruções que recebia a cada música que gravava. Eram sempre dicas de como manter seu tom em certas partes ou como a gravação funcionaria, ajudando a dar um direcionamento para o que faziam. E, após alguns minutos, a música finalmente começou a tocar.


Forever Young era de longe a música com um instrumental mais marcante e a letra mais... adolescente que ela já havia cantado. Tratando-se basicamente de um amor intenso e da sensação de que aquele momento era perfeito e que ambos seriam jovens enquanto o amor durasse. Era legal de ouvir, mas honestamente Mayu não tinha tanta certeza se iria conseguir passar os sentimentos corretos. Mas era notável que ela estava se esforçando. Fechando os olhos para buscar os leves crushs que tinha tido ao longo da sua vida. Mantendo o tom leve enquanto cantava o primeiro verso, com um timbre de voz doce e… parecendo seriamente interessada, alongando algumas das notas numa tentativa de fazer sua voz soar mais bonita. Ela tinha treinado a pronuncia de forma especial para as duas músicas do mini-álbum, então não era algo que Mayu tinha que realmente se preocupar. Felizmente o primeiro trecho acabou e logo uma batida, bem característica indicava o ritmo do refrão com a pronúncia de 'Forever Young' de tempos em tempos, o que não era exatamente difícil, mas Mayu sabia que poderia fazer melhor nos próximos refrões.


Os primeiros versos eram os favoritos de Mayu, a forma como tinha sido construídos e o instrumental lhe dava a impressão de estar vivendo dentro um filme adolescente antigo e cheio de positividade ou até mesmo no calor seguro da infância. Então era natural que sua voz parecesse sonhadora e bastante alta, cheia de positividade e felicidade. E, aparentemente, tais sentimentos se adequavam bem a música. Mas, aparentemente, ela tinha desafinado em alguns dos trechos ao julgar pela expressão dos produtores – o que era natural se levasse em conta que Mayu tinha começado suas aulas de canto há alguns meses. Mas a música continuou tocando e logo ela se viu repetindo o refrão.


Quando o rap chegou Mayu já sabia que não iria ir tão bem assim. E talvez esse fosse seu maior defeito em relação aquilo que não tinha tanta confiança: supor que iria ir mal e simplesmente ficar nervosa demais. E, de fato, os erros foram inevitáveis. Ela até mesmo tinha errado a pronúncia que tanto tinha ensaiado antes de desistir e pedir para gravarem novamente, o que prontamente os produtores atenderam. Ambos indicando que ela não deveria ficar nervosa antes da música se iniciar novamente, apenas dando tempo para que ela bebesse alguns goles de água e limpasse a mente. A sua segunda passagem foi muito melhor do que a primeira – que ela sequer conseguiu concluir de tão engasgada que estava soando –, mas ainda não estava bom. Mayu sabia que soava hesitante de algumas partes, como se estivesse esquecendo das próximas frases e as vezes saia completamente fora do tom e ritmo do instrumental, sentindo-se afobada para concluir. Mas ela continuou tentando.

Honestamente ela tinha perdido a conta de quantas vezes havia repetido o rap, que sempre parecia maior e mais terrível cada vez, até que os produtores parecessem achar a parte boa – ou talvez apenas fossem regravar mais tarde –, indicando que iriam continuar gravando o resto da música. E honestamente ela se sentia aliviada. Bastante consciente de que não conseguia passar emoções bem enquanto se concentrava em não errar o ritmo necessário para fazer o rap.


Os próximos versos pareciam fáceis em relação ao rap, mas Mayu ainda sentia como se tivesse que compensar o 'fracasso' de alguma forma. Ela tinha tomado água e aquecido a voz assim que terminou o rap, puxando memórias e o mesmo sentimento que tinha quando começou a gravar a música e ao chegar nos versos finais, que eram lentos e alguns mais rápidos e em coro, Mayu se sentia muito positiva. Aquela parte em específico era lenta e a Hirawa tentava usar sua voz de forma profunda, o que não acontecia muito bem, mas os produtores pareciam mais satisfeitos com os seus resultados em estúdio daquela vez.

Ainda assim ela gravou a parte final da música – que era completamente em inglês – algumas vezes para garantir que sua pronúncia do inglês estava indo bem. Como havia crescido no Japão a sua noção de inglês, por boa parte da vida, era a mesma que muitos japoneses. Então ela nunca tinha sido muito boa com a língua até se mudar para a Coréia. E tentar falar dois idiomas com noções de pronúncia completamente diferentes era... um pouco infernal. Mas naquele momento valia a pena o esforço.

Os produtores, logo após a finalização da parte final da música, logo indicaram que gravariam os back vocals e iriam regravar o rap. Obviamente ela iria sofrer mais um pouco no estúdio antes de finalmente ir para casa.