Era cerca de quatro da tarde quando Young Mi mandou uma mensagem idêntica para Kyung Bo e Jung Su:
”Será que pode me encontrar aqui, às onze? Quero te apresentar uma pessoa.”

Em seguida, enviou a localização do pub. Ela sabia que tinha que acordar cedo no dia seguinte e Jung Su também. Mas se ele iria na confraternização da família Jeon com ela no fim daquele mesmo mês, seria prudente que ao menos uma pessoa, além de seu pai, estivesse sabendo de seu namoro: Kyung.

Ela e a prima eram quase polos opostos e recebiam tratamentos opostos do patriarca da família. Ambas haviam tido do bom e do melhor. Ambas bissexuais. Ambas assumidas. Mas só uma delas havia recebido os castigos mais cruéis que seu velho avô poderia pensar. E só uma delas, mesmo adulta, continuava a receber o desprezo desse mesmo homem.

Minnie tinha dores de cabeça e sentia o próprio pescoço esquentar com a raiva só de imaginar toda a merda que seu avô diria sobre Jung Su. Tentaria ser polido e não soar como o velho preconceituoso de merda que era. Diria apenas que Jung Su era muito velho para ela, sabendo que os outros membros da família discordariam. Depois, diria que um homem que não servisse ao exército não tinha honra para namorar uma de suas netas. E ali começaria o problema com toda a merda xenofóbica que ele poderia falar. Talvez ele conseguisse abalar a santa paciência de Young Mi antes que Kyung Bo o cortasse como uma navalha.

Se havia algo que os garotas da família haviam aprendido ao estar no meio de homens de negócio, essa coisa podia ser chamada de diplomacia. Ambas podiam ser bem persuasivas com seu carisma ou, simplesmente, findar a conversa com um único e brutal argumento. Polos diferentes. Mas ainda muito semelhantes para fingirem que não.

Haviam competido a vida toda. Young Mi tentando se fazer ser amada. Sendo a melhor aluna de sua classe, com notas mais altas, a número um da turma por quase toda sua vida e por todo seu colegial. Uma aluna de piano dedicada, uma filha obediente... havia sempre dado o seu melhor. Havia aprendido outros três idiomas e, também, cantava, dançava e tocava piano como ninguém. Tinha memória eidética, o que significava que ela podia se lembrar de tudo. Mas nada disso nunca havia bastado. Ainda era punida até mesmo por não fazer absolutamente nada de errado. Humilhações verbais eram as mais frequentes, mas não significavam que castigos físicos não existiam.

Um sorrisinho passou pelos lábios ao receber a resposta positiva de ambos. Então, ela voltou a arrumar o pequeno apartamento que havia alugado provisoriamente sentindo seu estômago se apertar em nervosismo.

Por fim, horas depois, ela havia tomado banho, vestido um short jeans curtos, meias que iam até o meio de suas canelas e uma camiseta branca e larga com o all-star preto. O cabelo curto caindo ao lado de seu rosto e os óculos de grau com um chapeuzinho para disfarçar seu rosto. Pegou o celular e o cartão, colocando-os no bolso e começou a caminhar até o ponto de táxi em frente ao prédio onde morava.

Entrou no veículo e deu o endereço, sentindo-se cada vez mais nervosa. Tinha levado algum dinheiro vivo para pagar o táxi de ida e o de volta, ainda assim, ela só rezava a todos os santos para não ser reconhecida já que ninguém sabia que ela havia cortado o cabelo e nem mesmo que ela precisava de óculos de grau, ou lentes, para enxergar perfeitamente bem.

Ela mexia o anel, presente de Jung Su, nervosamente em seu dedo. Passou a língua por entre os lábios e inspirou o ar profundamente. Sentou-se em uma mesa mais afastada ao fundo do pub, percebendo que havia muitos jovens tatuados e de aspecto diferente do usual. Aquilo lhe arrancou um risinho baixo.

Enviou uma mensagem com uma foto, dizendo que já havia chegado ao local. Ainda faltavam dez minutos para as onze horas, mas ela estava grata por ter sido a primeira a chegar, do contrário, podia ser que eles se desencontrassem de mesa. Por fim, percebeu a primeira figura a chegar. ― Oi, Kyung! ― cumprimentou a prima com um sorriso no rosto, retirando o chapéu. Abraçou-a assim que se aproximou o suficiente e deu-lhe um beijo estalado na bochecha. ― Antes de mais nada... eu ouvi o seu debut e... foi incrível! Meus parabéns! Estou feliz por você! ― e, observando a empolgação da garota, era entendível onde ela e Bo eram polos opostos.

― Como você está, hm? E os seus pais?! ― ela esperou pela resposta, percebendo a figura alta do namorado se aproximar de ambas, ela acenou para ele, certificando-se de que ele as havia visto.

Young Mi o cumprimentou com um abraço e um selinho, virando-se para a prima com um sorriso genuinamente feliz. ― Kyunggie, esse é o Jung Su, meu namorado. ― virou-se para o mais velho e apontou a prima com a mão. ― Jung Su, essa é a Kyung Bo, minha prima! ― ficou parada ali, sorridente, apenas esperando o impacto da – possível – provocação que viria da mais nova.