Ye Na poderia afirmar com todas as letras que era um pouquinho – apenas um pouquinho, é verdade – sem juízo. Mas o fato é que isso não era motivo que sua família inteira resolvesse lhe ligar para reclamar sobre o conteúdo dos seus vídeos. Bem, sua mãe sempre lhe enviou mensagens meio ácidas, reclamando sobre o rumo que ela estava dando a sua vida e afirmando que "essa onda de digital influencer" não era boa coisa e não lhe daria sustento. Óbvio que ela ignorava, afinal era apenas preocupação de mãe. Porém sua família havia começado a lhe mandar mensagens, indicando que não achavam seus vídeos realmente interessantes para sua imagem. E, honestamente, ela não conseguia encontrar forças para aturar a situação, revirando os olhos – quase até o cerebelo – e fingindo que não era com ela.

E, infelizmente, aquele dia era um dos dias infelizes que seus parentes surgiam do inferno com comentários desagradáveis para tentar lhe enfiar em alguma carreira tradicional. Yena não era assim e nunca seria. Então, já sem qualquer traço de paciência, ela simplesmente atendeu o telefone de forma brusca. Ouvindo a voz da sua tia preencher a linha e aguardando os comentários sobre seu último vídeo, que ela sabia que viriam.

E assim que os comentários começaram a ser feitos, Yena a interrompeu. Sabendo que depois a família viria reclamar com ela, mas que culpa ela tinha? Só queria ser youtuber em paz. – Tia a senhora deveria se preocupar com o seu filho que fuma maconha e com seu marido que vive dando presentes caros para mulheres. A senhora não tem vergonha não? De ficar me ligando para reclamar de vídeos bobos que posto na internet?! Boa noite tia.

Naturalmente ela desligou, sem esperar pela reação da mulher mais velha, jogando os cabelos para trás e esperando alguns bons minutos antes de ouvir a família se agitando dentro de casa. A noite seria longa.