O seu primeiro disparo tinha ido bem, mas isso não garantia qualquer vitória para os próximos, então ela respirou fundo quando o momento de disparar chegou, olhando algumas vezes para a plateia, onde estava a torcida de apoio ao grupo. Haviam algum pensamento persistente de que, mais tarde, deveria se juntar aos fãs se fosse permitido ou chegar o mais perto possível para conseguir conversar ou ter algum tempo apropriado, afinal aquelas pessoas estavam ali para apoiá-las, mesmo sem qualquer performance de dança ou canto. O que, por si só, mostrava o quão dedicados eram em seu amor e apoio, não importa a situação em que estivessem, ela tinha certeza que acabariam lá para apoiá-las.

Voltando a atenção para o arco, Sakura arrumou a própria posição, apesar de sentir algum incômodo no músculo das costas assim que ergueu o arco, mas era ignorável naquele momento, apesar dela esperar que não interferisse em nada no seu desempenho. Controlando a respiração e voltando a se concentrar na mira exibida a sua frente, com o arco erguido e a flecha bem posicionada. Novamente ela sabia que haviam barulho e podia identificar o grito de fãs, mas não estava prestando atenção total ao que era dito. Mirando da melhor forma que podia e como foi ensinada, só então disparando a segunda flecha.

Seu segundo disparo parecia que tinha ido bem também e, por alguns segundos, ela se permitiu rir com a vibração das pessoas, mas sabia que ainda precisava fazer seu último disparo para ter certeza se estava indo bem ou não, o que era um tanto quanto enervante. Mas tinha conseguido fazer dois disparos sem morrer do coração, então certamente ela ficaria bem. Com a respiração controlada e já voltando a focar no alvo, ela tornou a erguer o arco, pelo que esperava ser a última vez, soltando o ar com cuidado, como fazia quando estava no palco, erguendo o arco de forma cuidadosa e bastante cautelosa também. Ela queria ir bem também naquele disparo e sabia que dependia apenas dela, se fosse bem ficaria despreocupada por diversas razões como ter aproveitado bem o investimento que a empresa tinha feito no treinamento em arquearia.

Mas Sakura não se concentrou nisso, seus olhos focalizando apenas o alvo e bastante consciente do peso do arco em sua mão e do repuxar dos músculos das costas e extensão dos braços. Havia algum esforço ali, mas ela não estava focada nisso ou nos pequenos incômodos, ser idol vinha com bastante dores musculares inclusas e ela estava bastante acostumada se pudesse pontuar. Puxando mais um pouco de ar antes de concluir que sua flecha parecia bem posicionada, a disparando após alguns segundos e esperando, inegavelmente, que desse tudo certo.

Arquearia era algo que ela achava que talvez pudesse ir e fazer melhor, mais bonito, do que vinha fazendo naquela altura. Não era tão complicado assim acertar o alvo. Era? O pensamento a fez dar uma risadinha nervosa enquanto ela ajeitava a saia e se dirigia para filmar o pequeno clip de anúncio sobre contra quem elas iriam competir. Estava um tanto chateada com algumas coisas, mas sua expressão era de muita simpatia e sorrisos amigáveis, ela derramava amabilidade e era quase bonitinho demais de ver a maneira com a qual ela se portava. Então, estava sentada na sua cadeira, conversando com Jae Eun e Sakura baixinho enquanto via a equipe da Rainbow iniciar. Pensando que Holy sunbaenim era boa, muito boa.

Boa de um jeito que ela tinha receio que acabariam sendo massacradas. Ela era a mais velha do grupo. Devia ir primeiro? Ficou um pouco confusa, mas quando seu momento chegou, ela se colocou de pé no local indicado e acenou um tanto para a platéia antes posicionar a fecha e fechar um dos olhos para focalizar o alvo assim que puxou a corda. De onde ela podia ver, estava com a flecha mirada no centro, mas seria capaz de conseguir fazer algum lançamento decente? Ela não tinha tanta confiança em si mesma. Se achava... fraca. Patética, para participar daquele tipo de competição, ainda assim, empurrou seus medos para o fundo da mente. Então, soltou o projétil, rezando para funcionar.

Olhou surpresa para as garotas quando percebeu que havia atingido o alvo no número 7. Ela não esperava conseguir ir bem, ainda mais de cara ou desse modo. Sete era um bom número. Não um completo fiasco, fracasso ou o que quer que ela tivesse pensado que iria ser. Esperava ganhar medalhas o suficiente com as garotas para deixar os fãs felizes e tendo do que se gabar. Ela queria mesmo não ter de se preocupar com nada demais e estar com as meninas quase sempre lhe permitia aquilo, mas não naquele dia. Naquele dia ela estava cansada e com a cabeça cheia e mais cansada. Talvez por isso sua comemoração tenha durado pouco antes dela pegar sua segunda flecha e recomeçar a refazer seus passos de mais cedo. Tentou soltar mais os ombros, relaxando um pouco para ajeitar melhor a própria postura, sem saber ao certo o que deveria fazer naquele instate. Sua cabeça mais para atrapalhar do que para ajudá-la naquele momento.

Olhou o alvo por um instante, posicionou a flecha e tracionou a corda, inspirando profundamente antes de erguer o arco e mirar de maneira deliberada no centro. O olho fechado para ter uma bela visão de onde sua mira deveria estar e, assim, ser capaz de preencher as expectativas alheias. Sempre as expectativas dos outros. HOTPINK era um grupo de altos e baixos. Mais baixos do que altos e ela só poderia rezar para que continuasse assim. Não queria perder nada daquele momento de ascensão. Então, soltou a flecha. Pensando que deveriam vencer.

A frustração a fez esfregar a testa, coçando-a com certa força antes de se dar conta de que era realmente natural acontecer aquele tipo de coisa. Sua mente indo e vindo entre seus problemas e o foco que deveria ter na competição. Ela precisava daquilo. Vencer. Porque ela precisava do máximo que pudesse obter e embora um cinco não fosse tão ruim, ela sabia que poderia fazer melhor. Porque já havia feito. Era sempre necessário fazer mais e mais e ser o melhor que poderiam ser até a exaustão. Se existiam pessoas que deveriam ser perfeitas, essas pessoas eram os idols. Eles não poderiam ser humanos, falhar, namorar, casar, ter filhos e fazer o que as pessoas comuns fazem porque eles não são pessoas comuns. Eles são extraordinários. Ou era o que pensavam.

Mas ela era uma pessoa comum. Uma que estava com problemas e com a cabeça fora de rumo. Sabia lá Deus como ela iria prosseguir. E nem adiataria matutar muito porque não ia até a igreja desde a semana anterior. Talvez devesse usar o chuseok para ir falar como o padre, talvez se confessar. Mas como poderia? Do que precisava se livrar daquela vez? Não. Não. O pensamento foi empurrado ao fundo da mente e Hara inspirou com certa dificuldade. Céus. Como fazer? Estava... cansada. Então, repetiu o processo todo com sua última flecha e quando a soltou, sequer quis olhar o que havia feito, fechando os olhos por completo no minuto em que seus dedos livraram a corda fina e o projétil.

Era verdade que Jae Eun estava nervosa por ir na arquearia contra Sumin, Ha Yoon e Young Mi — principalmente por causa da última —, mas sua expressão era concentrada e quase séria demais para alguém tão jovem. Ainda assim, permitiu-se um sorriso para a platéia, juvenil e animado, revelando sua pouca idade. Havia treinado um tanto para aquela modalidade, o que a fazer pensar que  podia ser que não se saísse tão mal. Talvez não fosse tão difícil acertar o alvo, certo? Precisava confiar em si mesma, como sempre fazia.

Quando sua vez chegou, ela apenas levantou seguindo para a área de onde atiraria, ajustando a luva na própria mão antes de erguer o arco e puxar uma flecha. Sentia-se como em um daqueles filmes mediaveis, de fantasia. Como um elfo. Apoiou a flecha no arco e na mão, passando a puxá-la com a corda usando toda a força que tinha e, naquele momento, ela temeu que não fosse muita. Holy tinha ido extremamente bem. Para a sorte delas, do HOTPINK, Sakura também. Será que ela conseguiria?

Queria ganhar, então seu lado competitivo logo foi aflorado, dissolvendo o medo como se fosse um sal de frutas e se transformando em algum gás dentro dela. Sentia a própria bochecha amassada por sua força e pela corda que segurava, fechando um olho e mirando no centro do alvo. A respiração presa quase fazia seus pulmões doerem, mas soltou o ar junto com o projétil, acompanhando seu trajeto com os olhos e torcendo para alcançar o mais próximo possível do meio do alvo.

Um dez perfeito. E Jae Eun não reprimiu o próprio sorriso com seu feito. Havia começado bem, talvez pudesse se manter assim. Talvez pudesse competir de igual para igual com Holy, Aisha e Hunny. Talvez elas, do HOTPINK, pudessem ganhar. Uma risadinha baixa lhe escapou enquanto ela procurar por suas unnies com o olhar, quase como se quisesse aprovação ou pelo menos algum incentivo pelo que acabara de conseguir fazer, mas logo tornou o olhar para o alvo, voltando a se concentrar.

Mas não importava que tivesse começado bem, ainda não podia dar o jogo por vencido porque lhe restavam três flechas. E ela precisava se certificar de acertar as três o mais perto possível daquele seu primeiro dez. Precisava ir bem com aquelas outras três flechas também. Encheu os pulmões de ar devagar, pegando outra para posicionar no arco e, então, ergueu ambos na altura de sua cabeça, mantendo os olhos fixos no alvo. Se a força que imprimira antes havia ajudado ela não tinha certeza, mas certamente estava disposta a puxar o cordão com o mesmo afinco para conseguir uma boa posição de novo no alvo, e assim o fez, de novo pressionando a própria bochecha com força e amassando-a.

Voltou a fechar um dos olhos, sentindo a bochecha coçar um pouco pelo contato com a corda e com parte da flecha, mas se preocuparia com aquilo depois porque, naquele momento, só acertar o mais perto possível do centro do alvo importava de novo. E era justamente onde seu olhar estava focado, quase como se aquilo fosse lhe dar certeza de que era onde a flecha ia chegar outra vez, porque era onde Jae Eun queria que ela fosse. Inspirou o ar de maneira profunda, prendendo-o nos pulmões por algum tempo antes de soltá-lo devagar, junto com o projétil. Daquela vez ela não queria acompanhar seu trajeto, mas também não conseguiu tirar os olhos da flecha para ter certeza de onde ela acertaria.