Sook moveu-se para mais perto da janela, apertando um pouco mais o aparelho quando ele parou de tocar só para reiniciar alguns segundos depois. Acabou virando-se de costas para a sala e atendeu sem dizer nada. Engoliu em seco enquanto o ouvia dizer coisas baixas e sujas ao seu respeito do outro lado da linha, como se tivesse esquecido que havia ligado para ela. — Vá se foder, seu monte de merda — sua voz, irritada, soou mais alta do que havia pretendido e ela não sabia quem a havia ouvido. Mas quando o aparelho voltou a tocar, ela retornou para perto dos amigos e mostrou o celular para Jae Hwan que apenas a observou como quem queria saber o que tinha a ver com aquilo. — Um bom motivo. Só um bom motivo pra eu não sair daqui agora e passar por cima dele.

Sua expressão era mortalmente séria, mas então, ela colocou o celular sobre a mesa e o atendeu. — Eu estou numa sala com oito pessoas. Tudo que você disser elas vão ouvir. Então pensa bem antes de abrir essa sua boca imunda. E fala de uma vez o que você quer, porque eu definitivamente prefiro não te ouvir nunca mais — disse de uma vez, colocando o celular no viva-voz. Um silêncio estranho se seguiu antes que ele fizesse a pergunta de ouro: “Sobre o outro dia. O meu filho, como está?” Ji Sook enrijeceu a postura e se debruçou um pouco mais sobre a mesa, fechando um dos olhos. — Que filho? Você foi bem claro quando me perguntou se eu queria dinheiro para tirar. Então, por que está tão preocupado?

Silêncio novamente. — Jong Hyun, vá pro inferno. E para de me ligar ou eu vou te denunciar por perseguição. — desligou a chamada outra vez, sentindo as próprias mãos estremecerem com a raiva que parecia queimar cada célula de seu corpo. Olhou ao redor e pegou uma das garrafas de soju ainda fechadas. Observou a tela do celular acender outra vez com o mesmo número e apenas desligou. Bloquear não iria adiantar. Jong Hyun era muito bom em ser inconvenientemente insistente. Ao que parecia, ele também havia bebido naquela noite porque só aquilo justificaria o fato de ele estar ligando.

Ignorou e afastou a mão de Jae Hwan quando ele fez menção de pegar o aparelho. — Não. Eu vou só… esconder essa droga. Depois eu vejo. — passou as mãos pelo rosto e tomou um gole demorado da garrafa de soju antes de colocar o celular no silencioso e o enfiar no bolso. Não tinha dito tudo que queria, mas honestamente, não queria mesmo ouvir a voz do ex quando só isso era suficiente para causar ânsia. Prendeu o cabelo em um coque e inspirou com força, apertando a garrafa de soju. Era como se ela estivesse fingindo que a garrafa era o pescoço do ex-namorado. Até ouvir a voz de Shin e observá-lo como se fosse matá-lo só com o olhar por um ou dois segundos. Então, afrouxou o aperto ao redor do objeto e se endireitou um pouco. — Não preciso de pontos e perder semana de trabalho por causa daquele idiota.

Se sentou sobre as próprias pernas e olhou para o rapaz com atenção, parecendo um tanto menos irritada. — E também não preciso deixar ele continuar fodendo com a minha vida. — resmungou a última parte, embora mais para si mesma do que para os outros. A fala de Jae Hwan a fez se virar com curiosidade ao pensar sobre o que ele dizia e a gargalhada de Ah Reum não demorou para lhe arrancar um risinho, especialmente quando Jay lhe perguntou se ela se lembrava do que tinha dito. — Que você não precisava ficar me salvando dos outros. E que se você achava que isso me faria casar com você, você devia ser mesmo burro.

Ah Reum riu mais alto e Ji Sook acabou acompanhando a morena ao balançar a própria cabeça. A fala seguinte do maior, no entanto, a fez torcer o nariz. — Não… — olhou para Ah Reum, que ainda ria um pouco, e respirou fundo. Ela tinha feito a escolha certa em tirar, certo? Tomou outro gole do soju e olhou para as pessoas ao redor. — Me desculpem. Acho que eu ando perdendo a cabeça muito fácil… — encheu as bochechas ao respirar fundo pela boca e soltou o ar devagar pelo nariz. Puxou o celular de dentro do bolso e percebeu que haviam cinco ligações perdidas.

Colocou o celular sobre a mesa, no centro dela, e o deixou lá com a tela virada para baixo. A pergunta de Shin a fez rir um pouco. — Não era por ele me salvar. Os nossos pais sempre comentaram sobre como nós podíamos nos casar e ele tinha ouvido sobre, então veio me contar. E eu fiquei certa  de que ele só era legal comigo porque estava interessado em se casar. — riu um pouco mais, vendo Ah Reum rir ainda mais alto. — Eu o mordi porque não queria casar com ele. E preferia que ele me deixasse ser… machucada do que ser bonzinho só para casarmos. — olhou para o melhor amigo de soslaio e deu de ombros. — E pensar que quando nós ficamos mais velhos eu pedi para ele ser meu primeiro beijo, mas ele disse que eu não sou uma mulher pra ele. — explicou ao japonês, usando um ritmo mais devagar ao falar, como se quisesse ter certeza de que ele compreendia. A fala dele sobre ele e Mirai terem sido o primeiro beijo um do outro a fez erguer as sobrancelhas. — Eu não seria o primeiro beijo do Jae Hwan oppa. Ele tinha dado o primeiro beijo muito antes de eu considerar a ideia. — riu consigo mesma ao encarar o amigo de soslaio.

— Ah Reum-ah é muito tímida. — explicou Ji Sook assim que ouviu Jay contando a história e a explicação da Shin. — Ela é o tipo de pessoa que está sempre com uma expressão fechada, tentando passar despercebida. Mas é realmente difícil porque ela é muito bonita… — Ji Sook fez um pequeno bico ao apoiar as mãos sobre a mesa e se inclinar na direção do móvel.

A fala de Mirai para que fossem dormir a fez de colocar de pé para alcançar o casaco que havia deixado no chão onde passara a maior parte da noite. — Por mim, tudo bem. Eu durmo em qualquer lugar. — respondeu-a em japonês, esvaziando os bolso para que as coisas que trazia na jaqueta e na jeans larga não a machucasse durante a noite. — Acho que vocês dois deviam ir para a cama e descansar. — continuou na língua materna dos proprietários do apartamento.

Ela deitou-se em um canto afastado da sala com a jaqueta sobre os braços desnudos graças à blusa de alças finas e ficou quieta apenas encarando o teto. Não estava com sono se fosse ser honesta e, provavelmente, passaria a noite em claro. Mas sabia que o único jeito de ter a chance de pegar no sono seria ficando quieta. Se sua insônia fosse muito ruim, talvez ela até organizasse as coisas silenciosamente no meio da noite.